RIO - A seleção pública para a Agência
Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que está com inscrições abertas, pela
primeira vez exige que os candidatos façam provas de inglês — o que não ocorreu
nas seleções de 2005, 2006 e 2010. O concurso para o Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) do ano passado apresentou
uma novidade. Candidatos ao cargo de analista de comércio exterior se
submeteram não apenas à prova de inglês e espanhol, como puderam optar também
pelo francês. Já no BNDES, que aplicou provas para mais uma seleção pública no
início do mês de março, o peso da língua estrangeira vem crescendo ao longo do
tempo — em 2001 as dez questões de inglês ou espanhol valiam cinco pontos no
total, enquanto hoje estão valendo dez.
Ou seja, os concursos públicos finalmente acordam para a globalização. Não é só
no setor privado que o domínio de outros idiomas — inglês especialmente — se
torna exigência: cada vez mais órgãos de governo também cobram conhecimento de
língua estrangeira. Reflexo de uma economia cada vez mais internacionalizada,
dizem especialistas, embora ainda não tenha “caído a ficha” de quem se
candidata.
— O inglês de conversa e de viagem não
adianta para quem vai prestar uma prova de concurso. Ver filme sem legenda
também não é se preparar para um concurso, apesar de muitos acharem que isso
basta — destaca Mariana Lima, professora de inglês e francês do Instituto de
Desenvolvimento e Estudos do Governo (Ideg), especializado em cursos
preparatórios para concursos como o do Instituto Rio Branco.
Aliás, desde o segundo semestre de 2010
— após fazer as provas de inglês, francês e espanhol obrigatórias do concurso e
serem aprovados para o Rio Branco — os jovens diplomatas precisam escolher
entre os idiomas russo, árabe e chinês para estudar durante seu curso de
formação: são, no caso, duas horas de aulas semanais para cada língua
estrangeira.
— Foi uma determinação do ministro
Antônio Patriota, com o objetivo de aumentar o conhecimento do diplomata sobre
a cultura, a sociedade e a língua desses países e áreas emergentes — explica o
coordenador-geral do Instituto Rio Branco, Márcio Rebouças.
A professora Mariana vê como natural a
maior exigência nessa formação:
— Já que a exigência do nível de inglês
aumentou para todos os outros funcionários, é razoável que a cobrança seja
maior na área da diplomacia.
Alexandre Lopes, diretor pedagógico do
Curso Maxx, explica o aumento da cobrança como consequência do momento
econômico do país, que, nos últimos anos, também viu crescer o número de
concursos públicos:
— Há mais concursos sendo feitos por
agências reguladoras também, que têm cargos técnicos que exigem domínio de
idiomas, assim como mais incidência de seleções para estatais.
Sérgio Monteiro, gerente de Educação e
Treinamentos da rede CNA, acentua que, no setor público, vale a lógica da
iniciativa privada:
— O domínio da língua inglesa, mais do
que um diferencial, é uma exigência no mercado de trabalho, principalmente
quando nós consideramos cargos mais altos dentro da hierarquia da empresa.
Apesar disso, diante da concorrência
cada vez mais feroz para conquistar uma vaga no serviço público — o último
concurso realizado pelo BNDES, por exemplo, recebeu 138 mil inscritos — os
candidatos não dão a devida importância à língua estrangeira, afirmam os
especialistas.
— Como o tempo de preparação
normalmente é escasso, os candidatos enfrentam a prova com os conhecimentos que
possuem ou, se tiverem dificuldade com inglês, optam pelo espanhol, quando
existe essa alternativa — destaca Roberto Caparroz, professor de direito
internacional das redes LFG, Praetorium e Marcato, acrescentando que um bom
desempenho na prova de idioma pode, sim, fazer a diferença na hora de uma
aprovação. — Fato é que matérias que não fazem parte do “núcleo central” de
determinado concurso podem garantir pontos preciosos no cômputo do resultado
final.
— Um estudo do vocabulário específico
da área, como as expressões idiomáticas e os jargões, seria uma boa dica —
destaca Richard Betts, coordenador do curso Plan Idiomas Direcionados,
acrescentando que há partes do texto que se apresentam repletas de termos
técnicos. — Por isso, é bom alertar, ler materiais sobre a área em questão é
bem interessante.
No BNDES, há provas de inglês ou
espanhol para todos os cargos. O que muda é a quantidade de questões e o peso —
no nível superior são dez perguntas valendo um ponto, das quais os candidatos
precisam acertar pelo menos três, enquanto no nível médio são oito questões de
dois pontos (mínimo de um acerto).
— Sendo assim, os candidatos que não
dominam inglês ou espanhol, ainda que não sejam eliminados, ficam em
desvantagem em relação aos demais candidatos que têm conhecimento de língua
estrangeira — afirma Simoni Aparecida Oliveira, gerente do Departamento de
Administração de Recursos Humanos do BNDES, instituição que vem intensificando
suas atividades internacionais, por meio de participação em missões externas e
do recebimento de delegações estrangeiras. — Além disso, o BNDES conta com um
escritório de representação em Montevidéu e com uma subsidiária em Londres, o
que reforça a necessidade de o quadro de empregados ser composto por
profissionais que tenham conhecimento de língua estrangeira.
E o banco, diz Simoni, investe em
cursos de idiomas para funcionarios:
— De modo que os profissionais estejam
aptos a atender as mais diversas demandas de trabalho tanto no Brasil, quanto
no exterior.
A alternativa do ensino on-line
Mariana Lima, professora do Ideg,
confirma o crescimento da exigência de falar língua estrangeira em órgãos
públicos de maneira geral:
— Não só dou aula para preparação de
concursos, como para pessoas que, já aprovadas, precisam aprimorar a fluência
em função de seus cargos.
As aulas particulares são, aliás, um
método que permite que o interessado no serviço público possa direcionar os
estudos de idioma para determinados concursos. Hoje, além dos cursos
tradicionais, as novas tecnologias permitem que o ensino de língua seja feito
de novas formas — por meio de aplicativos, por exemplo, ou cursos on-line.
— O curso on-line pode facilitar
porque, muitas vezes, quem estuda para concursos está no mercado de trabalho e
tem uma limitação de tempo, e essa ferramenta de ensino propicia flexibilidade
— diz Mabel Castro, gerente de projetos responsável pelo Ibeu Online, curso que
será lançado na quinta-feira. — Já os aplicativos para smartphones são bons
complementos e ajudam em consultas rápidas. Só que eles ainda não substituem os
cursos.
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