Danilo Nogueira é tradutor profissional desde 1970.
Sua especialidade são os campos de "colarinho branco": contabilidade,
finanças, tributação, entre outros. Autodidata, palestrou em várias cidades
brasileiras, mais Argentina, EUA, França e Portugal. Um dos primeiros
tradutores brasileiros a usar ferramentas de memória de tradução. Publicou dois
pequenos glossários, sobre direito societário e contabilidade. Tem mais de 50
artigos publicados no Translation Journal (http://translationjournal.net/journal/), muitos dos quais reproduzidos em outros locais
e traduzidos para outras línguas e fundou o blogue sobre tradução mais antigo
do Brasil (tradutorprofissional.com), que mantém junto com Kelli Semolini e
Raquel Schaitza.
Por que decidiu trabalhar com tradução? É
preciso fazer algum curso superior para se tornar tradutor?
Ensinava, ou imaginava ensinar, inglês numa escola
livre, quando um dos clientes perguntou se algum dos professores queria fazer
umas traduções. Perguntaram se eu queria, o pagamento era bom, fui lá, fiz,
gostei do serviço, gostaram do meu serviço, me convidaram para ficar com eles,
fiquei. Depois de oito meses, saí e comecei a trabalhar por conta própria.
A profissão não é regulamentada, o que
significa que, para começar, a gente só precisa da cara e da coragem.
Ao trabalhar com palestras, qual o
perfil de pessoas que participam das mesmas?
Já dei alguns cursos sobre redação, coisa que não
faço mais há uns vinte anos. Todas as minhas outras palestras foram para
tradutores ou estudantes de tradução. É só disso que entendo, mesmo.
Os participantes variam de estudantes a tradutores calejados.
Você acha que essa profissão pode
acabar devido ao avanço das novas ferramentas online e novas tecnologias?
A profissão, como todas, evolui. Não é hoje
como era em 1970 e não vai ser amanhã como é hoje. Mas as novas ferramentas e
tecnologias não dispensam um tradutor, só precisam de melhores tradutores e de
tradutores que se adaptem a elas.
Quais as maiores dificuldades na tradução
entre línguas muito diferentes. As diferenças culturais interferem muito no
resultado final?
Nem precisam ser línguas muito diferentes. Tome
por exemplo, a tradução jurídica: o ordenamento jurídico inglês e o brasileiro
diferem tanto quanto a cultura esquimó da chinesa, mas a gente traduz jurídico
todo santo dia.
Como é a sua rotina como tradutor?
Minha rotina é condicionada pelo tipo de tradução
que faço: minha clientela é constituída fundamentalmente de agências estrangeiras,
que me repassam serviços para grandes bancos e financeiras. Isso significa uma
enxurrada constante de textos que raramente excedem 5.000 palavras e que têm de
ser processados a toque de caixa.
Bem diferente da vida de quem fica meses
traduzindo um livro, por exemplo, ou de quem traduz auidiovisuais.
Se já cometeu algum erro grave na tradução, Como você reagiu às
críticas?
Claro que cometi. Vários. No pior caso, pedi desculpas
ao cliente e não cobrei pelo serviço. Mas nem todas as críticas que recebi se
referiam a erros que eu tinha cometido. Tem sempre quem critique por falta de
mais o que fazer. Aí, eu deixo quieto.
Percebeu muita diferença na área de tradução
nos dias atuais em relação ao período em que começou a trabalhar como tradutor,
na década de 1970?
Em 1970, eu traduzia com uma máquina mecânica e
era considerado modernoso, porque a maioria traduzia à mão. Tinha quatro
dicionários em cima da mesa, o original à minha esquerda e datilografava a
tradução. Hoje trabalho com um computador, não recebo uma folha de papel para
traduzir há mais de dez anos e traduzo coisas em formatos com quem nem sonhava
há dez anos, quanto mais há quarenta.
Já rejeitou algum trabalho por achar
que não daria conta ou já pensou em mudar de profissão?
A primeira obrigação do profissional é rejeitar
aquilo que não pode fazer. Talvez não possa fazer porque estou ocupado
demais, talvez não possa fazer porque está fora da minha especialidade. Mas, se
não posso fazer, rejeito. Se souber quem possa fazer, indico com prazer. Se não
souber, paciência.
Depois de trabalhar quinze dias como tradutor,
cheguei à conclusão de que eu queria morrer traduzindo.
Qual a importância de trabalhar com parceiros
da mesma área?
A gente não só se ajuda muito, como também indica um
ao outro quando não pode aceitar algum serviço.
Você trabalha em casa mesmo e com um horário flexível? Consegue um bom
balanço de sua vida profissional com a pessoal?
Trabalho em casa e tenho horários totalmente
amalucados. Posso sair para passear na terça-feira e trabalhar no domingo.
Depois que a gente se acostuma, é perfeitamente normal e muito agradável.
Que mensagem deixaria para quem deseja
ingressar nessa carreira?
Como tradutor, você tem que trabalhar com duas
línguas: a sua e uma estrangeira. Estude a língua estrangeira como um louco,
sempre que puder e, para cada hora que estudar a língua estrangeira, dedique ao
menos duas ao estudo da sua própria.
Qual a importância das redes de
colegas e redes sociais para seu trabalho?
Nos últimos dez anos, mais de 90% dos meus
serviços vieram de colegas e redes sociais. Sem contar as numerosas e
preciosas informações que garimpo nelas o tempo todo.
Como surgiu a ideia de criar seu
blog (TRADUTOR PROFISSIONAL)?
Uma vontade irresistível de dizer o que me ia pela
cabeça do jeito que eu queria dizer.
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