O entrevistado dessa
semana é Denilso de Lima. Nessa entrevista agradável, o mesmo fala um pouco das
dificuldades enfrentadas pelos profissionais de idiomas, da forma como criou o
blog Inglês na Ponta da Língua, faz um breve resumo da vida profissional e uma
breve avaliação do ensino de língua inglesa no Brasil.
Denilso é conhecido
em todo o país e atualmente, escreve livros, faz pesquisas no campo de
aquisição e ensino lexical, dá treinamentos a professores de escolas
particulares e públicas, palestras em faculdades, palestras motivacionais para
público interessado, além de ministrar cursos online para o público interessado
e cuidar do blog Inglês na Ponta da Língua, da fanpage do mesmo, que
ultrapassou o número de 100.000 fãs
antes do final do ano.
Esperamos que
apreciem essa entrevista.
- Poderia
fazer um resumo da vida profissional?
Tudo começou em 1995. Eu era voluntário em uma
igreja e como tal dava aulas para crianças de uma comunidade atendida pela
igreja. Em 1996, fui trabalhar em uma unidade de ensino de idiomas (Escolas
Follow me). Depois fui passando por outras escolas: CEBEU, Instituto Britânico,
CCAA, Skill, CNA, Cultura Inglesa. Na Cultura fui professor, coordenador
pedagógico e gerente administrativo. Depois saí! Montei uma escola própria.
Mas, minha paixão era treinar professores, escrever livros e coisas assim.
Larguei a escola e estou onde estou hoje.
- Quando
decidiu se tornar professor de língua inglesa?
O momento crucial foi em 1999. Foi nesse ano que
decidi ser Profissional de Ensino de Língua Inglesa. Passei a ler livros,
artigos, trocar ideias com outros professores. Enfim, foi o momento que passei
a encarar tudo como Profissão e não como bico, passatempo.
- Como
você avalia o ensino de língua inglesa no Brasil? Qual a importância dessa
língua no mundo globalizado em que vivemos?
O ensino de língua inglesa no Brasil tem dois
lados. O primeiro lado é o público. Nesse lado, nós sabemos que o Brasil é
péssimo em relação ao ensino de inglês. O Governo não possui uma política
pública de ensino e isso faz com o ensino regular seja precário no que diz
respeito ao ensino da língua. O segundo lado é o privado. Ensinar inglês no
Brasil é um comércio lucrativo. Por causa disso, proliferam país a fora tantas
escolas de idiomas. O problema é que dentro do universo privado temos também
dois lados: um lado que se preocupa com o ensino/aprendizado da língua, que
busca aperfeiçoamento de seus profissionais, que está na vanguarda do que temos
hoje na área; o outro lado visa apenas o lucro às custas do sonho das pessoas
que desejam falar inglês, esse é o lado obscuro que não paga bem os
professores, que não se preocupa com a qualidade do seu material, que não
investe na qualificação profissional de sua equipe.
Para um país que deseja ser líder global, que quer
(e vai) sediar eventos internacionais importantes, isso tudo é perigoso.
Afinal, como todos sabemos a língua inglesa é essencial nos dias de hoje em
todos os âmbitos da vida. Sendo ela uma língua importante para o
desenvolvimento de um país como um todo, os órgãos públicos e privados deveriam
levar este assunto com mais seriedade.
- Você
criou um dos maiores blogs de dicas de inglês do Brasil e também uma das
maiores fanpages de dicas no Facebook. Como nasceu a ideia do blog e qual
o papel da internet na divulgação das dicas de inglês?
O blog nasceu como uma válvula de escape. Eu
passava por um momento difícil na vida pessoal e profissional. O blog serviu
apenas como refúgio. Não tive nenhum planejamento. Não tive nenhum
investimento. Na verdade, eu não tinha nem a ideia de que isso viria a ser “um
dos maiores blogs do Brasil”. Enfim, já ganhamos prêmio, já fomos indicados por
várias revistas... Isso é legal! A única coisa que batalhei para ser grande foi
a fanpage, que hoje tem mais de 100.000 fãs.
A internet é interessante! Quisera eu tê-la à
minha disposição quando comecei a estudar inglês. Na rede encontramos rádios,
canais de TV, jornais, revistas, livros, pessoas, comunidades, etc., que nos
ajudam a aprender inglês e a desenvolver nosso conhecimento da língua.
Portanto, a internet possui um papel quase que central na vida de quem
realmente quer aprender inglês. Cabe à pessoa – o aprendiz – saber tirar
proveito do que ela oferece.
- Como
é o Denilso De Lima em sala de aula?
Eu sou suspeito para falar! Essa pergunta deveria
ser feita aos meus ex-alunos. Apenas para constar aqui eu não dou mais aulas de
inglês. Atualmente, escrevo livros, faço pesquisas no campo de aquisição e
ensino lexical, dou treinamentos a professores de escolas particulares e
públicas, palestras em faculdades, palestras motivacionais para público
interessado, dou cursos online para o público interessado, cuido do blog, da
fanpage e tudo mais.
Mas, o Denilso em sala de aula era um cara
extrovertido e que ajudava os alunos a aprenderem inglês de modo descomplicado.
Não focava nas deficiências dos alunos, mas sim nos pontos fortes. Não me preocupava com pequenos erros de
pronúncia ou gramaticais; pois, esse é o tipo de coisas que a pessoa aprende
com o tempo de envolvimento com a língua. Em resumo, eu era um profissional
focado nos estudantes e aprendizado deles; não era focado no prazo, no livro,
na tecnologia e essas coisas todas. Em resumo, eu era assim! Meus alunos e
alunas podem confirmar ou negar isso tudo! (risos).
- Você
é autor de vários livros sobre o a língua inglesa, dá pra viver bem como
escritor? Como é esse universo de escritor de livros para a área de língua
inglesa? E qual foi a sensação ao publicar o primeiro deles?
(risos) Ao contrário do que as pessoas pensam, não
dá para viver bem como escritor. Aliás, não dá nem para viver. A única coisa
legal em ser escritor é a aura de glamour que existe. É uma coisa engraçada. Eu
chego em um local e as pessoas comentam isso. Tirando essa pequena “fama”, não
tem nada demais em ser escritor. Eu ainda preciso trabalhar muito para poder me
manter!
O universo de
escritor de livros para a língua inglesa, em minha opinião, só é melhor se você
tem um nome de gringo. Autores brasileiros não parecem ter muita
credibilidade do público. Principalmente, do público professor! Muita gente
pode discordar disso; mas, a verdade é que assim como as pessoas acham que o
melhor professor de inglês é o cara que vem de fora, a grande maioria dos
professores também acha que os melhores pesquisadores e autores são os que vêm
de fora. Então, trata-se de um universo complicado. Eu já me bati muito com
isso! Hoje, não me importo mais! Faço o que faço para o meu público e fico
feliz com isso.
A sensação de publicar o primeiro livro é a mesma
sensação que temos ao recebermos nosso primeiro salário na vida. Você se sente
o próximo grande milionário do mundo. Acha que vai comprar carro zero todo ano.
Acha que vai comprar um iate e fazer um cruzeiro pelo mundo a fora. Quando a
ficha cai e você percebe que não é nada disso, bate uma tristeza. Você sabe que
seu livro é excelente, ajuda as pessoas e coisas assim. Mas, as pessoas
precisam descobrir você. É aí que você descobre que se quiser ganhar alguma
coisa com um livro escrito, você precisa aparecer o máximo que puder e fazer as
pessoas perceberem que precisam ler seus livros. Em resumo, a gente vai dos
céus à terra.
- Como
foi o Denilso aluno? Como aprendeu inglês?
O Denilso aluno era um misto de CDF com
bagunceiro. Até hoje não sei como eu tirei boas notas em algumas provas. Em
relação ao inglês, eu aprendi sozinho. Nunca fiz curso de idiomas e nunca saí
do Brasil. Aprendi com os recursos que eu tinha na época. E, sendo filho de
pais que não tinham nem a 5ª série, os recursos eram escassos. Eu pegava livros
emprestados da biblioteca da escola para estudar. O dicionário que eu tinha eu
ganhei de um tio e era um dicionário da década de 1960. Meu primeiro conjunto
de fitas eu ganhei, mas não tinha onde ouvir. Em casa não tínhamos um aparelho
toca-fitas. Mesmo diante das dificuldades eu estava decidido a aprender inglês.
Cheguei a desanimar muitas vezes. Só depois que descobri os exames de Cambridge
é que melhorei. Pois, esses exames serviram de base para meus objetivos. Assim
fiz o FCE, o CAE e o CPE e passei em todos logo de primeira. Com força de
vontade, motivação, criatividade e objetivos bem definidos. Qualquer pessoa é
capaz de grandes realizações.
- Já
passou por alguma situação inusitada ou embaraçosa em sala de aula?
Quem nunca passou! Tem aquelas situações clássicas
das vestimentas das garotas serem decotadas demais. Tem aquelas situações nas
quais um aluno diz algo inapropriado do ponto de vista feminino. Tem as
situações de você ser cantado pelas alunas. Tem situações de todos os tipos.
Escolher uma é deixar de lado outras interessantes. Então prefiro ficar só
nisso mesmo!
- Todo
profissional passa por momentos difíceis em sua vida profissional. Você já
citou isso, inclusive criou o blog INGLÊS NA PONTA DA LÍNGUA nesse
período. Já chegou a pensar em desistir da profissão? Largar tudo e fazer
outra coisa?
No período de 1997-1998, eu pensava em ser
administrador de empresas, contador, coisas assim. Em 1999, resolvi levar a
carreira a sério. Depois, em 2005-2006, pensei em arrumar um emprego qualquer e
deixar tudo isso de lado. Pensei em trabalhar como secretário bilíngue,
vendedor, fazer concurso público para alguma área... Aí em 2007, logo depois da
criação do blog, algumas coisas legais começaram a acontecer. Em 2008, mudei
para Curitiba e aí a história é a que temos hoje. Todo profissional tem seus altos e baixos; mas, quando você se
identifica com a área e sabe que tem muito a contribuir com ela, você continua
firme. As mudanças podem não ocorrer por sua causa, mas o que você fizer,
por menor que seja, já contribuirá para as mudanças que serão feitas um dia.
- Na
sua visão, qual o maior problema ou dificuldade para quem deseja ser
professor de língua inglesa na região onde você mora?
Aguentar o salário! Esse é o desafio de todo o
Brasil! As pessoas acham que por falarem inglês e trabalhar na escola tal, elas
terão um salário alto. Quando entram, percebem que o salário não é lá essas
coisas. Para ganhar bem, você precisa se sacrificar e dar muitas aulas. Para piorar, a maioria das escolas no Brasil
não registra os professores em carteira. Isso dá uma insegurança muito grande.
É por isso que muitos donos de escolas
reclamam que não encontram professores. A
maioria deles não percebe que eles próprios são os maiores desafios para que
eles possam encontrar profissionais.
- Recentemente,
lançaram uma pesquisa onde o Brasil aparecia como um dos piores países da
América do Sul em nível de fluência em inglês. Levando em consideração que
a noção (concepção) de fluência pode variar, como você avalia esse tipo de
informação; tem fundamento?
Esse tipo de pesquisa serve apenas para confirmar
aquilo que todo profissional da área de ensino de inglês já sabe: o Brasil é
péssimo mesmo. Nada de investimento, nada de planejamento, nada de incentivo
aos professores, nada de qualidade, nada de tudo relacionado a isso. Portanto,
para mim, esse tipo de pesquisa é como a reinvenção da roda. Nós já sabemos
disso há muito tempo. Não precisamos de uma pesquisar para escancarar isso!
O grande ponto aqui é o seguinte: agora que isso
está sendo escancarado, o que será feito a respeito? O Governo vai tomar uma
atitude? Alguma empresa vai tomar uma atitude? A empresa que fez a pesquisa vai
tomar alguma atitude? Quem vai fazer o quê? Vão destinar recursos para
pesquisas na área e assim melhorar o cenário futuramente?
Esse tipo de pesquisa ajudaria se ao serem
divulgados os resultados alguma ação fosse tomada. Mas, isso não acontece. Essa
pesquisa não é nova. Ano passado o Brasil aparecia na 34ª posição, este ano
aparece na 46ª. É bem provável que ano que vem esteja na 50ª alguma coisa!
Afinal, ninguém faz nada.
Não sei como a pesquisa foi feita. Não sei quais
os critérios utilizados para definir o vago conceito de fluência. O que sei é
que a pesquisa foi conduzida por uma das maiores escolas de idiomas online do
mundo. Logo, podemos acreditar na seriedade da pesquisa ou duvidar da mesma. De
um jeito ou de outro, isso não muda o quadro de que a fluência do brasileiro é
umas das piores do mundo.
- O
que um professor precisa ter para ser considerado um bom profissional em
sua opinião?
Paixão! Se não tiver paixão, esse professor não se
desenvolverá na profissão. Se ele não se desenvolve profissionalmente, será
sempre um profissional medíocre e sem muito conhecimento. Como ele não terá
muito conhecimento, seus alunos e alunas não confiarão nele. Logo, ele estará
fora do mercado. Portanto, se você quer ser um bom profissional, almeje ser um
excelente profissional: leia livros, estude, participe de eventos, aprimore-se,
aprenda sempre mais, converse com colegas da área, escute seus alunos e foque
nas necessidades deles. Enfim, apaixone-se e tudo isso acontecerá sem muito
esforço.
- Que
mensagem você deixaria para quem deseja estudar inglês e para os
professores desse idioma?
A mensagem para os professores já está acima: apaixone-se pela profissão. As dificuldades
existem em qualquer área. Ninguém nesse mundo ganha o que merece. Portanto, não
adianta reclamar disso. Foque no seu desenvolvimento profissional. Afinal,
conhecimento não mata ninguém!
Aos alunos a mensagem é a seguinte: envolvam-se com a língua inglesa diariamente.
Só estudar os livros das escolas não resolve. Só ouvir os CDs dos livros não
resolve. Só assistir a duas aulinhas por semana não resolve. Portanto,
envolva-se com a língua: escute, leia, escreva, fale (nem que seja sozinho),
crie estratégias de aprendizado, cante, recite, decore textos, músicas,
diálogos, viva a língua inglesa o máximo que puder e logo você perceberá seu
progresso. Não espere pelos outros! Seja você a diferença na sua própria vida.
Envolva-se com a língua e quando menos perceber você certamente estará com o
inglês na ponta da língua.
That’s it! J
Um comentário:
Denilso, parabéns pela entrevista! Eu achei que a vida de escritor fosse mais glamourosa financeiramente, rsrs. Mas discordo de que os profissionais brasileiros não consomem publicações nacionais. Tenho livros de autores brasileiros e acho que são muito valiosos justamente por tratar da aquisição de inglês por falantes de português.
Cheers,
Carina
(teachercarinafragozo.blogspot.com - English in Brazil)
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