Poucas palavras:

Blog criado por Bruno Coriolano de Almeida Costa, professor de Língua Inglesa desde 2002. Esse espaço surgiu em 2007 com o objetivo de unir alguns estudiosos e professores desse idioma. Abordamos, de forma rápida e simples, vários aspectos da Língua Inglesa e suas culturas. Agradeço a sua visita.

"Se tivesse perguntado ao cliente o que ele queria, ele teria dito: 'Um cavalo mais rápido!"

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

O ENSINO DA TRADUÇÃO.

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A teoria sugere e a prática demonstra que não basta o conhecimento razoável, nem mesmo o perfeito domínio, de qualquer língua estrangeira, para fazer um bom tradutor: o grande número de traduções de má qualidade, cheias de erros grosseiros, que o leitor já deve ter observado tantas vezes nas traduções de filmes para a televisão, principalmente, é uma prova inequívoca disso.
Famoso é o caso daquele filme de televisão em que a polícia invade a residência de um dos implicados na trama criminosa, e um dos policiais abre com fúria uma porta que estava fechada; então o chefe da patrulha pergunta se havia alguém lá dentro, e o policial responde: “Pessoa!” (Era um filme francês, e o policial teria respondido, no original, “personne” — que se pode traduzir como “pessoa”, literalmente, mas no caso a tradução correta seria “ninguém”...)  
É verdade que as traduções de filmes para televisão não costumam dar os nomes dos tradutores responsáveis por tais e tantos atentados contra a língua e contra o próprio bom-senso; o que se ouve dizer, em geral, é que se trata de uma “versão brasileira” de tal ou qual laboratório cinematográfico especializado. Esse anonimato acoberta, por um lado, os maus tradutores; e, por outro lado, permite a esses “laboratórios” e empre­sas afins, usuários do trabalho de tradutores despreparados, pagar-lhes muito menos do que teriam de pagar a profissionais conscientes da tradução. E assim presta-se, através do mais popular dos veículos de comunicação de massa, um lastimável desserviço à causa da tradução e dos bons tradutores.
Para evitar que as traduções continuem a ser malfeitas e mal remuneradas é que existem, em número cada vez maior, as escolas de tradução e as asso­ciações de tradutores.
Na França, a E.S.I.T. (Escola Superior de Intérpretes e Tradutores) que pertence à Universidade da Sorbonne, em Paris, traçou para os seus formandos em tradução um currículo que inclui o estudo de três línguas obrigatórias, sendo a primeira delas a língua pátria, e duas línguas estrangeiras; e conhecimentos gerais, sem os quais não há tradutor que preste.
Não se traduz afinal de uma língua para outra, e sim de uma cultura para outra; a tradução requer assim, do tradutor qualificado, um repositório de conhecimentos gerais, de cultura geral, que cada profissional irá aos poucos ampliando e aperfeiçoando de acordo com os interesses do setor a que se destine o seu trabalho.
Dentro do estudo de cada uma das línguas, a nacional e as estrangeiras, o estudante de tradução é iniciado no domínio de técnicas especiais, e de alguns recursos dos quais poderá valer-se no exer­cício da sua profissão, complementando assim o conhecimento teórico com a experiência prática indispensável. Mesmo porque, como se diz, tradu­ção se aprende traduzindo.
Findo o seu curso, em geral de três anos, o aluno aprovado recebe da E.S.T. um diploma de tradutor, que faz dele um trabalhador qualificado em nível universitário.
Em muitos lugares onde a tradução é hoje estudada a sério, em cursos que apresentam currí­culos especializados, a mais moderna tendência é a de substituir-se a tradução dita “geral”, que muitas vezes parte da tradução de textos literários — justamente os mais difíceis de traduzir — pela tradução de textos “pragmáticos”, como os deno­mina o francês Jean Delisle: textos nos quais o conteúdo é mais importante que a forma. E tam­bém se tem observado o esforço dos que ensinam, no sentido de fazer sentir, aos que aprendem, a distância que vai da tradução “escolar”, por assim dizer, à tradução profissional.   
Essa divisão dos textos originais, em tipos nos quais o conteúdo é mais importante e tipos nos quais mais importante é o aspecto formal, vem ocupando e preocupando estudiosos e pesquisadores em vários países.
No Brasil existem cursos de tradução, em nível universitário, na Universidade de Brasília, como já foi dito, e mais: nas Pontifícias Universidades Católicas do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul, na Universidade do Estado de São Paulo (em mais de um dos seus campi), e em algumas instituições particulares de ensino superior. Na Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro ensinou-se, durante algum tempo, a disciplina “Técnicas de Tradução”, como parte do currículo do curso de Editoração, atualmente desativado.

Uma das questões que no Brasil certamente atrapalham a criação e a manutenção de cursos de tradução é a falta de reconhecimento oficial da profissão de tradutor: sem esse estatuto profissional, a formação universitária de tradutores destina-se a formar profissionais de nada, por assim dizer. E a falta de reconhecimento da qualificação desses profissionais redunda por sua vez em aviltamento do mercado de trabalho, beneficiando os usuários do produto dos tradutores, apesar de todos os esforços que vem realizando, desde sua fundação há cerca de dez anos, a Associação de Tradutores do Brasil (ABRATES).   


Baseado no livro O QUE É TRADUÇÃO de Geir Campos.

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