01.
Conte-nos um pouco da sua vida acadêmica/profissional. Como avalia os
cursos superiores de Letras no nosso país?
Comecei minha carreira profissional um ano
antes de iniciar minha carreira acadêmica. Meu primeiro dia como professor de
inglês foi em 2 de fevereiro de 2002 e minha carreira acadêmica começou 1 ano
depois, em março de 2003 no curso de Letras da UFPE. Na verdade, uma coisa está
ligada a outra. Decidi prestar vestibular para Letras após 6 meses de
experiência como professor de inglês.
O curso superior de Letras no Brasil vem
sofrendo mudanças por conta do mercado e da abrangência de possíveis graduações
dentro do mesmo curso. O curso da UFPE, por exemplo, sofreu duas grandes
mudanças no seu currículo nos últimos 10 anos. Diferente do período em que
cursei Letras na UFPE, o aluno de licenciatura precisa hoje, não só concluir as
práticas de ensino, como fazer pesquisa para defender sua monografia. O curso
de Letras da UFPE, licenciatura em ensino de inglês/português, ainda prepara o
aluno para o sistema público de educação. É um curso que não me preparou para a
sala de aula e o mercado de trabalho, mas trouxe grande conhecimento teórico
para minha formação profissional e acadêmica.
02. Quando decidiu se tornar professor de inglês?
Após a conclusão do ensino médio, em janeiro
de 2002, uma amiga me chamou para fazer a seleção de professores do já extinto
curso de inglês Wisdom. Pensando no ‘pocket money’ que iria ganhar e da
experiência profissional também, fiz a seleção e comecei a dar aula. Não tinha
pretensão alguma de ser professor, mas esses seis meses inicias me fizeram
optar por prestar vestibular para Letras no fim de 2002 e, onze anos depois,
aqui estou eu.
03. Como aprendeu inglês? Usou algum método
específico?
Eu tive a grande sorte de ter estudado dos 4
aos 18 anos na Escola Americana do Recife. Fui alfabetizado em duas línguas ao
mesmo tempo e estudei numa escola baseada no currículo americano. Esse foi sem
dúvida o mais valioso investimento da minha carreira.
04. Você tem preferência por alguma abordagem ou
método no ensino do idioma?
Não. Acredito que a prática e o profundo
conhecimento de diferentes metodologias e técnicas na área de ensino de inglês
(ELT) são necessários para o professor então escolher o melhor para o seu
aluno. Nos últimos anos, algumas palestras mencionaram ‘principled electicism’
como uma forma de desmistificar a superioridade de uma metodologia sobre outra,
e sim de mostrar que cada metodologia tem seus pontos positivos e negativos e é
papel do professor avaliar as melhores técnicas para seus alunos.
05. Uns mais, outros menos, mas sempre encontramos
dificuldades em nossas áreas de atuação. Quais os maiores desafios que um
profissional de idiomas enfrenta na região onde você atual?
A falta de reconhecimento do professor
dedicado que participa de conferências, webinars, lê e escreve em blogs, faz
cursos de aperfeiçoamento da língua e de técnicas de ensino e não é valorizado
dentro da sua própria escola. Apesar da baixa remuneração dos professores em
geral, creio que a falta de reconhecimento ainda é o maior desafio nos dias de
hoje.
06. Em sua opinião, existem mitos criados pelas
pessoas em relação ao aprendizado de idiomas? Quais seriam?
Sim. Não acredito em um curso ou metodologia
superior que vai, por si só, determinar o sucesso do aluno no aprendizado de um
novo idioma. Acima da metodologia, filosofia da escola, material de boa
qualidade e professor qualificado, está o aluno. E esse aluno pode atingir
fluência em inglês independente de fatores externos, porém todos os fatores
acima mencionados ajudam o aluno a atingir a fluência desejada.
07. Já pensou em desistir da profissão? O que
te motiva?
Não. O que mais me motiva são os desafios da
profissão. Poder me especializar para ensinar crianças, adultos, turmas de
preparatório para exames, business
English, etc. Nos últimos 5 anos, tenho apresentado workshops em
conferências locais e internacionais – falar em público foi um grande desafio.
O networking que acontece nessas conferências e por mídias sociais me motiva
bastante também. E finalmente, escrever para o meu blog ELT Bakery e poder
compartilhar atividades, experiências e ideias com pessoas do mundo todo é um
grande fator de motivação.
08. Perguntinha cliché, mas qual a importância de
saber falar inglês hoje? Você acha que o Brasil está preparado para o ensino de
outros idiomas na escola regular?
Ficou comprovado em recente pesquisa da
escola de inglês online Global English sobre o nível de proficiência em inglês
em 76 países que o Brasil está muito longe da média mundial de 4,15 pontos;
ficando em penúltima posição com 2,95 pontos. Isso retrata a estratégia de
alguns cursos de inglês que prometem fluência em 12 meses.
Acho que ainda falta muito para o Brasil
estar pronto para o ensino de outros idiomas em escola regular. Enquanto o
ensino estiver voltado para o vestibular, com aulas em português e carga
horária reduzida, alunos ainda terão que ir para um curso de idiomas após o
horário escolar para obter fluência em inglês.
09. Já passou por alguma situação constrangedora em
sala de aula? Qual?
Sim, várias. A última que me lembro, foi de
ter soltado um palavrão em português logo após ter percebido que tinha
esquecido o arquivo em casa para a aula daquele dia. O grupo, de dez adolescentes,
riu muito na hora. Pedi desculpas e continuei com a aula sem o arquivo.
10. Que mensagem deixaria para quem leu essa
entrevista?
Antes de qualquer coisa, muito obrigado Bruno pelo convite, espero ter contribuído
de alguma forma com minhas respostas para o enriquecimento do seu blog.
A mensagem que gostaria de deixar é simples: busquem felicidade e paixão
no trabalho. Tenho amigos com 10, 15 anos de carreira que não tem paixão pelo
emprego e isso acaba sendo frustrante depois de um tempo. Tenho sorte de ter
encontrado minha paixão no começo da minha vida profissional e desejo o mesmo
para todos.
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