A
entrevista de hoje é com um professor Higor Cavalcante, profissional supermotivado
com 13 anos de experiência. Aqui, ele divide um pouco de suas ideias acerca de
diversos assuntos que se relacionam com o ensino/aprendizagem da Língua
Inglesa. Entre vários tópicos mencionados estão viagens, música, séries de TV,
internet, leitura e muito mais. Esperamos que curtam essa ótima entrevista.
- Poderia
fazer um resumo da vida acadêmico/profissional?
Antes
de mais nada, é um prazer participar do seu blog, Bruno, e obrigado pelo
convite!
Vamos
lá: trabalho como professor há 13 anos, desde os 19. Trabalhei em várias
escolas em São Paulo (Wizard, CNA, St Giles, Seven e International House –
nessa ordem) como professor, diretor de estudos, consultor de ensino e teacher trainer, área na qual tive minha
primeira oportunidade aos 24 anos no
CNA (rede pela qual tenho muito carinho e a que sou muito grato!). Desde então,
venho trabalhando como professor de inglês e teacher trainer. Academicamente falando, cursei Letras e fiz, entre
outros, os cursos CELTA, DELTA (módulo 1) e hoje faço o Trinity DipTESOL, que
adoro! Trabalho agora como professor e teacher
trainer freelancer, além de ser
examinador de alguns exames internacionais e manter (com muita irregularidade)
um blog sobre ELT. Embora tenha passado boa parte da minha vida em escolas e me
sinta em casa em todas elas, voltar a trabalhar para uma exclusivamente não
está nos meus planos no momento! Abrir a minha talvez...
- Como
aprendeu a falar inglês? Você fala outros idiomas?
Acho
esta uma pergunta muito difícil de responder, Bruno. Não acho que se aprenda
inglês em uma escola, em um curso, ou de uma forma. Estudei no CNA por muitos anos e fiz dois meses de
preparatório para o CPE na Cultura Inglesa, e aprendi muito nos dois lugares.
Mas aprendi inglês... em todos os lugares. Sou apaixonado por música (e
frustrado por não saber tocar um instrumento!) e cinema, além de ler
vorazmente, principalmente em inglês. Adoro séries de TV como The Big Bang Theory, How I Met Your Mother etc., além da
imortal Friends, e acredito que
aprendi – e aprendo todas as horas de todos os dias – devido a esse conjunto, a toda essa exposição ao
inglês.
Falo
espanhol em nível B2 e recentemente comecei um curso de francês. Adoro idiomas
e gostaria muito de ter tempo para me dedicar a dez ou doze deles!
- Quando
decidiu que queria ser professor de língua inglesa e depois decidiu pelo Teacher training?
Acho
que a minha história é parecida com a de muitos professores. Sempre gostei da
ideia de ser professor, mas finalmente comecei meio que por acaso. Tinha saído
de um trabalho que detestava e amigos me sugeriram tentar dar aulas particulares
de inglês. No fim, acabei ficando sabendo que uma unidade da Wizard estava
contratando. Mandei meu currículo, fiz uma entrevista, e o resto é história.
Acho perfeitamente válido começar por acaso, pra ‘ganhar uma grana’, ‘pra
manter o inglês’ e todos esses motivos tão comuns. No entanto, ser professor de
inglês é uma coisa muito séria e que precisa ser levada a sério, muito a sério!
Começa-se por acaso, e daí leva-se a sério. Tem que estudar – e não só inglês!
– pra sempre, e cursos como o CELTA, ICELT, preparação para exames como CAE e
CPE etc. são absolutamente fundamentais. É a profissão mais espetacular do
mundo, mas não é fácil! Se não está requerendo muito esforço da sua parte,
alguma coisa está errada!
- Não
poderia deixar de fazer essa pergunta para nenhum profissional de idiomas:
Como você avalia o ensino de língua estrangeira no Brasil (desde os cursos
universitários até os cursos de idiomas)? Qual a importância da língua
inglesa no mundo globalizado em que vivemos?
Não
vou levantar polêmica aqui com relação ao curso de Letras (que em teoria é o
que forma, ou faz parte da formação
do professor de inglês e idiomas em geral), me limitando apenas a dizer que é
um curso que, no geral, precisa ser aperfeiçoado. Isto posto, vejo mais
profissionalização e menos informalidade na área hoje, o que é maravilhoso! No
entanto, ainda temos muito amadorismo (no sentido ruim da palavra) em ELT no
Brasil, e acho que grande parte das grandes redes não dá a devida importância à
formação do professor. Precisamos mudar isso, e acho, por exemplo, que o fato
de mais e mais professores – por iniciativa própria – fazerem o curso CELTA no
Brasil hoje é uma grande notícia para nós!
Quanto
à importância do inglês no mundo hoje? Talvez seja a habilidade mais importante
para virtualmente qualquer profissional em qualquer área. Questão de
sobrevivência.
- Durante
‘the 2012 IATEFL conference’, em
Glasgow na Escócia, você participou fazendo uma apresentação cujo tema era
importance of reading for exams
preparation. Qual foi a
importância desse evento na sua
vida profissional e qual a importância da leitura para exames?
Apresentar
numa conferência internacional foi uma das coisas mais incríveis que já
aconteceram na minha carreira e na minha vida. Envolveu elaborar uma proposta,
ver essa proposta aceita, atravessar o mundo... Foi incrível. Aliás, acho que
participar de conferências internacionais, apresentando ou não, é algo que dá
ao professor uma ideia do tamanho dessa comunidade da qual fazemos parte, e da
gigantesca importância dela. É algo que todo professor deveria ter a chance de
experimentar, e que recomendo muito! (O próximo IATEFL é em abril de 2013 em
Liverpool. Mais informações em www.iatefl.org).
Quanto
à importância da leitura para exames, acredito ser fundamental. Não acredito
que haja exercício mais completo no aprendizado de um idioma do que a leitura,
e todo aluno de idiomas deve ler e ler muito. Não é diferente com relação a
exames.
- Você
tem alguma preferencia em relação à algum método de ensino de línguas? O
que acha dessas escolas que prometem “fórmulas milagrosas” para a
aprendizagem do idioma?
Acho
que é anacrônico falar em métodos e fórmulas milagrosas em 2012. Estamos no
pós-método! Aprendemos muito sobre como as pessoas aprendem (e não aprendem)
idiomas nas últimas muitas décadas, e o “método” que acredito que devemos usar
hoje é aquele que ajude o aluno a atingir seus objetivos. O que o aluno
precisa. O que o aluno deseja poder fazer com o idioma. Essa é a bússola. Não
existe e nunca vai existir um método que funcione para todos, e devemos focar
mais em nossos alunos do que em livros, métodos e fórmulas.
- Durante
anos de ensino e contato com o idioma, você já deve ter passado por
diversas situações constrangedoras ou embaraçosas, conte-nos uma.
Adoro
contar uma de quando era aluno básico e num acampamento com minha escola de
inglês soltei um Health! para um
colega que havia espirrado. Health
acabou virando meu apelido durante aquele acampamento, e ainda acho essa
história toda muito engraçada. Mas houve vários outros momentos! J
- Na
sua visão, qual o maior problema ou dificuldade para quem deseja ser
professor de língua inglesa em São Paulo? Você acredita que em outras
partes do país e situação seja semelhante?
Acho
que o maior problema para o professor – e não só o de inglês – tem a ver com o
pouco reconhecimento que temos. Dentro disso incluo evidentemente a questão
financeira, que é perniciosa e acaba afetando todas as áreas, inclusive por
vezes fazendo com que o acesso do professor a bons cursos fique prejudicado.
Não tenho dúvidas de que essa situação é a mesma no país todo, mas acredito
piamente que a única saída dessa situação é se dedicar cada vez mais, se
preparar e estudar cada vez mais no intuito de ser um profissional cada vez
mais diferenciado.
- Acredito
que uma das suas paixões seja viajar pelo mundo. Acredito que quase todo
professor de línguas tenha um desejo parecido com esse. Qual a importância
de viajar e vivenciar culturas diferentes? Qual a relação entre viajar e
aprender línguas?
Há
duas questões importantes aqui: a) viajar é incrível e faz bem pra tudo; b) o
bom professor de inglês não precisa viajar ou estudar fora, e ter viajado ou estudado fora não
transforma ninguém em um professor melhor pura e simplesmente.
Viajar
é, sem dúvidas, uma das maiores paixões da minha vida, e tenho condições de
fazê-lo de vez em quando devido ao meu trabalho como professor, o que me enche
de orgulho. Acho que curiosidade cultural é fundamental para qualquer
professor, e havendo a oportunidade de, por exemplo, vivenciar as diferentes
culturas que utilizam a língua inglesa como sua forma de descrever o mundo é extremamente rico para o
professor.
No
entanto, a pessoa curiosa culturalmente consegue ‘visitar’ tudo isso de várias
formas: leitura, internet, filmes, músicas etc. É extremamente preconceituoso,
acho, por exemplo, dividir professores em dois grupos: os com
experiência internacional e os que não tiveram a oportunidade. Como disse acima, viajar é uma experiência muito
rica, mas a pessoa verdadeiramente interessada e curiosa ‘viaja’ sem sair de
casa, e se informa sem ter estado ‘lá’.
Quanto
à relação entre viajar e aprender línguas, tudo depende das circunstâncias. Fazer um
intercâmbio, por exemplo, cercado de brasileiros por todos os lados e falando
português a maior parte do tempo pode ter resultado linguístico nulo. Da mesma forma, o aluno que ouve música, assiste
filmes, vê vídeos no ted.com, faz lição, lê, estuda, entende
que estudar inglês não termina quando a aula acaba, atinge os mesmos objetivos
por aqui mesmo. Acredito que aula é aula, e ESTUDAR inglês no Brasil, nos
Estados Unidos, na Inglaterra ou na Austrália não tem a menor diferença. O que
faz diferença – além de boas aulas, é claro! – é o que você faz quando sai da
aula!
- Já
passou pela sua cabeça, em algum momento em desistir da profissão e fazer
outra coisa?
Nunca,
jamais. Nem por um segundo.
- Que
mensagem você deixaria para os leitores do blog que são professores de
língua inglesa?
Estudem,
dediquem-se. Leiam! Leiam muito! Leiam tudo! Lembrem-se sempre que por mais que
o MEC não nos reconheça, nós temos os sonhos dos alunos nas mãos (de, por
exemplo, viajar para fora do país e se comunicar), o futuro profissional de
nossos alunos nas mãos. O que fazemos é de uma importância imensurável, e
imensurável também devem ser nossos esforços e tentativas de aperfeiçoamento
sempre!
Um
abraço e mantenham contato! Meu e-mail é cavalcante.higor@uol.com.br, Higor Cavalcante no Facebook
e @teacherhigor no Twitter e
Skype. Até breve!
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