Voltamos
das nossas férias em alto nível com essa entrevista concedida no final do ano
passado pelo professor Cláudio Azevedo. Muito conhecido no meio virtual pelos
trabalhos que desenvolve com seus blogs, Cláudio fala um pouco de suas experiências
como docente e no mundo virtual e muitas outras coisas mais. Apreciem essa
entrevista e se gostarem, curtam nossa página no Facebook.
01.
Poderia
fazer um breve resumo da sua vida acadêmica-profissional? Como você avaliaria o
ensino superior na área de Letras no nosso país? Esse ensino é satisfatório ou
deveria passar por adequações?
Trabalho
na Casa Thomas Jefferson, Brasília, há 27 anos. Sou formado em Letras. Acho que
o ensino de Letras no Brasil precisa melhorar muito. No caso do meu curso,
Letras-Inglês na UnB, eu tive colegas e professores de altíssimos níveis.
Porém, nos cursos de Letras-Português, percebi pessoas com níveis muito aquém
do que esperado para um curso superior. Há uma necessidade muito grande de
adequações, mas talvez a principal delas seja a valorização do professor da
área, o que atrairia pessoas mais qualificadas a fazer Letras e ensinar nas
faculdades. O ensino da Língua Estrangeira é visto por muitos como um trabalho
temporário e não uma opção de vida. Por isso pessoas de outras áreas que não
Letras são procuradas e desejadas em cursos de línguas. Apesar de temporários,
possuem muitas vezes nível de inglês melhor que os próprios alunos de Letras.
TESOL 2012 - Movie Segments and Grammar: The Perfect Connection |
02.
Como
aprendeu a falar inglês? Teve ajuda de algum recurso? Qual a importância de
saber falar inglês no mundo globalizado como esse em que vivemos?
Aprendi inglês onde
eu ensino hoje, na Casa Thomas Jefferson.
Comecei com 12 anos
de idade, formei-me nessa Instituição, fiz o Teacher Development Course, e nunca mais saí da Casa. Quando
estudei inglês, uma segunda língua era um ponto a mais, um bônus inestimável.
Hoje em dia não dá para procurar um bom emprego ou seguir uma carreira sem
falar inglês. Falar bem, e não arranhá-lo. Inglês é simplesmente pré-requisito
para uma boa carreira em qualquer área. Os recursos hoje são infindáveis, mas
na minha época de aluno, o grande recurso era o professor e nossa motivação. Ou
seja, ensinava-se e aprendia-se inglês antes do powerpoint e computadores.
03.
Você tem
preferencia por algum método ou abordagem? Acredita que algum deles seja mais
eficiente e algum menos eficiente?
Para mim, o melhor
método é o melhor de cada método. Podemos fazer uso de vários aspectos das
diferentes abordagens e métodos para compormos as nossas aulas. A abordagem
comunicativa é muito interessante para o aluno e professor, mas acrescentar
elementos de outros métodos pode ser bastante saudável. Porém, na nossa Instituição usamos a abordagem
comunicativa, uma maneira de estimular a criatividade do professor ao elaborar
seu plano de aula, sem engessá-lo em um determinado método.
TESOL em New Orleans 2011 |
04.
Quando
decidiu que queria ser professor de língua inglesa?
Desde
muito novo, mas minha família era contra. Achava que eu não conseguiria me
sustentar na área da educação. Formei originalmente em Economia, e só depois
enveredei no ensino de Língua Estrangeira. Investi na área e nunca deixei de
dar aulas. Adoro o que faço.
05.
Já pensou,
em algum momento, em desistir da carreira de professor e fazer outra coisa
completamente diferente?
Algumas
vezes. Nossa profissão é desgastante, cansativa mesmo. Mas é muito gratificante
também. Acho que não faria nada tão bem como dar aulas e desenvolver materiais
pedagógicos para o ensino.
06.
Como você
avalia o ensino de Línguas Estrangeiras no Brasil?
Lausanne, Suiça |
Acho que os professores de inglês
são a categoria de professores mais organizada no Brasil. Há dezenas de
seminários e convenções que ajudam muito a qualificação destes profissionais. Existem
algumas boas escolas de inglês no Brasil, mas infelizmente, a maioria promete o
que não pode cumprir, como curso completo em 1 ano, ou 1 ano e meio. Isso compromete
a nossa credibilidade. Claro que se ensina inglês em 1 ano, ou 1 ano e meio,
mas logicamente não é o curso completo. Outro problema é a rotatividade dos
professores de inglês. É difícil mantê-los por muito tempo nas nossas escolas,
mesmo por que muitos veem o ensino de inglês como uma coisa temporária, um bico.
Isso compromete a qualidade do ensino significativamente.
07.
Você tem
dois blogs sensacionais, um voltado para a parte estrutural da língua –
gramatica, e o outro focando em atividades com vídeos, filmes. Como surgiram as
ideias para a criação de cada blog?
Eu
sempre fiz este tipo de atividade ao longo da minha vida profissional. O que
aconteceu é que a tecnologia atual me permitiu compartilhar o que faço com o
mundo. Isso é genial. Hoje assisto a filmes com olhos voltados ao meu blog,
levo post-its ao cinema e anoto a
cena que pode ser útil. Agora é um caminho sem volta. Meus leitores são
exigentes e cobram novas atividades e dão sugestões que não posso descartar.
Mas a criação dos blogs foi um dever de casa. Ao aprender como se faz um blog,
meu professor passou como dever de casa a criação de um blog. Logo, peguei
todas as minhas atividades e coloquei nos blogs. Ou seja, foi uma coisa
inesperada, mas o resultado foi estupendo. Agradeço ao meu professor por ter me
ensinado o básico sobre blogs, wikis,
etc. Mas foi preciso ir à luta e botar tudo que aprendi em prática.
08.
Qual a
importância do uso dos recursos tecnológicos para o ensino/aprendizagem de uma
língua estrangeira?
Fundamental.
O mundo hoje é muito diferente. As crianças e jovens veem na tecnologia um
atrativo que faz parte do seu dia a dia. Não incluir recursos tecnológicos nas
aulas é um tiro no pé. Porém, como se usa o recurso tecnológico é que realmente
faz a diferença. Não adianta ter muitos recursos e a aula continuar chata. Nada
como um bom professor para aperfeiçoar estes recursos e fazer da sua presença
um elemento crucial para uma boa aula.
09.
Além de
inglês, você fala outros idiomas? Usou técnicas similares em todos ou cada um
foi estudado (aprendido) de forma diferente?
Falo
espanhol, francês e português, é claro. Entendo e me comunico em italiano
também, mas muito pouco. Aprendi o básico, mas o suficiente para minhas
viagens. Aprendi em cursos de língua, como aprendi inglês.
10.
Já viveu
alguma situação inusitada durante todos esses anos de ensino?
Situações inusitadas
acontecem sempre, independentemente do seu tempo de experiência. Mas a mais
inusitada de todas foi dar aulas para iniciantes em inglês que tiveram muita
pouca formação formal em suas línguas maternas, junto com alunos com enorme
facilidade para o aprendizado. Como ensinar o alfabeto, soletração, conceitos
gramaticais, se essas pessoas não o sabem em português? Foi um grande desafio,
mas o meu sucesso foi bem questionável.
TEFL - SP July 2011 |
11.
Quais
seriam os principais problemas encontrados por um profissional de idiomas na
região onde você atua?
Conseguir treinamento
continuado, uma carga horaria cheia que o permita sobreviver sem precisar
trabalhar em varias escolas ou ter outros empregos.
12.
O que se
esperar de um professor e um aluno de idiomas? Quais deveriam ser os papeis de
ambos?
Comprometimento. O
professor e aluno comprometido, motivado, antenado com o mundo é uma fórmula de
sucesso. Ambos precisam usar recursos tecnológicos, mas não o fazem como
deveriam. O aluno usa a tecnologia no seu dia a dia, mas reluta em utilizá-lo
para estudar em casa. O professor também domina estes recursos, mas tem pouco
conhecimento teórico que o ajude a dosar e aplicar o que sabe eficazmente. Aos
mais antigos e experientes falta a compreensão que o mundo muda rapidamente e
que o que funcionava há pouco tempo atrás não funciona mais hoje em dia. É
preciso atualizar-se sempre e gostar do que faz.
13.
Obrigado
pela atenção e por ter compartilhado um pouco da sua vivencia no ensino de
idiomas com vários profissionais da área (muitos professores me escrevem
dizendo que leem todas as entrevistas). Você deixaria alguma mensagem para
professores e estudantes de língua inglesa?
O importante na nossa
profissão é trabalhar com amor. É preparar aulas com os nossos alunos em mente.
Agradá-los, mas provendo conteúdo significativo. É preciso investir sempre em
qualificação. Não deixe de ir a convenções nacionais e internacionais como o
TESOL, BRAZ-TESOL, CTJ Seminar, participar de webinars, enfim, continuar crescendo.
Compartilhe o que você faz. Isto só traz dividendos ao professor. Vejo, por
exemplo, o que compartilhar minhas atividades nos meus blogs, totalmente
gratuitos, pode me trazer em retorno. Não devemos só usufruir o que a internet
nos oferece, mas sim compartilharmos também o que fazemos de melhor, mesmo que
seja com o colega que está próximo. Não desanime. Nossa profissão é cansativa e
demanda muito da gente, mas é também uma das mais prazerosas que há.
2 comentários:
Sou uma grande fã do Cláudio, e já usei diversas atividades de seus blogs. Percebi que partilhamos o mesmo ponto de vista em diversos aspectos com essa entrevista.
Adorei.
Carina
teachercarinafragozo.blogspot.com (English in Brazil)
Como achar blogs antigos de Cláudio Azevedo?
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