Poucas palavras:

Blog criado por Bruno Coriolano de Almeida Costa, professor de Língua Inglesa desde 2002. Esse espaço surgiu em 2007 com o objetivo de unir alguns estudiosos e professores desse idioma. Abordamos, de forma rápida e simples, vários aspectos da Língua Inglesa e suas culturas. Agradeço a sua visita.

"Se tivesse perguntado ao cliente o que ele queria, ele teria dito: 'Um cavalo mais rápido!"

terça-feira, 21 de abril de 2020

Entrevista com o professor Elias Bernardino




Poderia fazer um breve resumo de sua vida acadêmica/profissional?

Sou filho da escola pública. Entrei na faculdade de Letras e Artes pela UERN em 2005, aos 17 anos de idade. Formei-me em 2009. Antes disso, em 2008, tive minha primeira experiência formal com a docência, pois fui escolhido para trabalhar num projeto de extensão, com a parceria UERN-PETROBRAS, chamado “Programa de Criança Petrobras”. Na época, mudei-me para Mossoró, onde permaneci por nove meses nesse contrato.
Em 2009, retornei à minha cidade (Felipe Guerra) e fui professor substituto por quase dois anos, até finalmente, passar no meu primeiro concurso (2010) e ser convocado em 2011. Essa nova porta via prefeitura municipal me levou à cidade Governador Dix-Sept Rosado, onde trabalhei por cinco anos.
Em 2012, peguei meu segundo vínculo empregatício, mas dessa vez, na SEEC- RN (Secretaria de Estado da Educação e Cultura).
Em 2014, iniciei minha especialização em língua inglesa, também pela UERN. Esse curso foi concluído em 2016. Ano em que retornei mais uma vez a Felipe Guerra, onde permaneço até hoje, e também conquistei o segundo vínculo estadual na SEEC. O que me fez abandonar o vínculo municipal na cidade anterior, em respeito ao limite de carga horária do servidor.
Porque decidiu ser professor de Língua Inglesa? Já pensou, em algum momento, em mudar de profissão?
Acredito que ser filho de professor contribuiu para isso. Meu pai era geógrafo, porém, já ensinou inglês numa época em que professores graduados em língua estrangeira eram escassos. Eu tinha acesso àquele material dentro de minha casa e ficava encantado. Adicione a isso, o prazer por músicas internacionais e jogos de vídeo game (s saudosos da Nintendo me compreenderão).
Eu me sinto muito realizado por ser professor de inglês. É algo que me enche o peito de orgulho. No entanto, em momentos de crise, já pensei em mudar de profissão, largar a docência, mas nunca a língua inglesa. Pensei em secretariado-excecutivo, turismo e hotelaria, etc. Áreas que, ainda assim, demandam um idioma estrangeiro.


Como aprendeu inglês? Usou alguma técnica que você considera realmente efetiva? Falando em técnica, você tem alguma preferência por método ou abordagem?

Eu lembro que chegar a UERN e descobrir que iriam me ensinar a ser professor, e não a falar inglês foi um tanto impactante. Meu nível era muito baixo. Muitos de nós confundimos a licenciatura com curso de idiomas. Eu, porém, não perdi tempo. Eu usava o que me era disponível: dicionários, CDs, DVDs, músicas, filmes, etc. A internet ainda era artigo de luxo para alguns de nós. Lembro que após estudar sobre fonética, fiquei tão obsessivo que lia algumas páginas de dicionários para aprender a transcrição fonética dos termos e não mais precisar perguntar aos professores como se pronunciava tal palavra.
Durante as férias, revisava tudo o que havia estudado no período anterior para, ao retornar, o conteúdo ainda estar fresco em minha mente. Na falta de alguém para praticar, eu falava sozinho perante o espelho. Creio que do método audiolingual e passando pela abordagem comunicativa até aqui, pode haver variadas formas eficazes de aprender, mas todas vão requerer disciplina e compromisso. Não creio em mágicas na aprendizagem. Na minha prática docente, porém, gosto de unir as ideias do ensino significativo; o lúdico na aprendizagem por meio das TICs (entre outros) e a ‘task-based approach’.

Quais as dificuldades que um profissional de idiomas na região onde você atua?
Fazer o aluno entender que ele precisa de inglês aqui mesmo no Brasil é, desde já, nosso primeiro desafio. O idioma é presente em tudo que ele faz, mas parece não enxergar isso. Há também os problemas sistêmicos e estruturais: carga horária insuficiente, meios de avaliação ultrapassados, internet de baixa qualidade na escola (Eu não abro mão das tecnologias modernas!), etc.


Como você avalia a formação acadêmica na sua região?

Eu sou muito grato por tudo que me foi ofertado pela universidade pública. No entanto, creio ser preciso focar ainda mais na didática e fluência dos profissionais que saem de lá. Na minha opinião, é inadmissível que alguém saia formado para ensinar inglês sem saber falar o idioma. Também penso que a questão da inclusão social precisa de um reforço. Até hoje, não sei lidar muito bem com alunos que possuem alguns tipos de deficiência. Eu preciso aprender a alcançá-los. Finalmente, ainda sobre didática, é preciso aprender a avaliar o aluno. Tarefa nada simples como uma prova em finais de bimestre.

Quais são seus planos em relação a sua vida profissional?

Eu pretendo manter minha formação continuada. O mestrado não saiu de meus planos, mas tive que adiar por questões de saúde. Tenho o desejo de me tornar funcionário federal também, seja numa universidade ou instituto técnico. 

Todos os professores de língua inglesa sempre têm que responder à pergunta “você já morou fora?” Você já teve alguma experiência fora do país? Como foi essa experiência?

Em 2018, participei do programa PDPI pela CAPES e FULBRIGHT. Na oportunidade, estudei por seis semanas na San Francisco State University, CA, EUA. Era um curso de desenvolvimento de metodologias de ensino. Foi a experiência mais marcante na minha formação profissional. Eu agora podia responder à pergunta feita acima. Pude vivenciar a riqueza cultural naquela cidade, aprender mais do idioma, da história americana, costumes, etc. Não pude ser mais o mesmo.

Qual foi o grande momento da sua vida profissional até o momento?
Cada concurso no qual passei teve um significado diferente na minha vida profissional, e nenhum deles foi menos importante. Adiciono a esses episódios, a experiência vivida no exterior, relatada mais acima.

Já viveu alguma situação bastante inusitada em sala de aula? Poderia compartilhar conosco?

Foram muitas. Variam entre o cômico e o melancólico. Mas optarei por uma que deixará uma lição aos outros professores que nos leem aqui. Era 2011, eu acabara de chegar a Governador Dix Sept Rosado para o primeiro emprego efetivo. Numa aula num sexto ano D (de demônio mesmo!), onde o público era de alunos desnivelados (16 anos ou mais), eu estava lecionando sobre esportes. Mas, eu não havia tido o cuidado de averiguar cada termo do vocabulário principal no livro, me confiando que por se tratar de um sexto ano, eu teria total domínio. Acontece que das 25 modalidades esportivas em inglês, ali havia uma que eu não sabia o significado. Ao que eu deixei claro desconhecer o termo. Isso foi o bastante para um aluno gritar do meio da sala: “Ah! Pensei que você era mestre, mas é só um aprendiz!”, desdenhou ele. Constrangido, mas afiado como sempre, repliquei: “Você não poderia ter encontrado melhor termo para me definir. Sou aprendiz! Pois a partir do momento em que me sentir mestre, talvez eu desista de continuar aprendendo. Talvez eu me ache sábio o suficiente para não mais precisar buscar. E se ser aprendiz me possibilita continuar aprendendo, me chame de ‘eterno aprendiz’”. Dito isso, seguiu-se uma série de aplausos. Mas na outra semana, dei uma aula inteira sobre aquela modalidade esportiva que desconhecia na aula anterior. E nunca mais lecionei sem ler TODO o conteúdo antes.

Como é Elias Bernardino professor e como foi esse mesmo Elias Bernardino aluno? 

Eu me considero extrovertido e brincalhão no convívio com os alunos. Já tentei fazer a linha ‘professor-delegado’, achando que assim, eu causaria uma melhor impressão entre os meus pares. Mas percebi que aquilo era uma fraude. Não seria eu. Então, me aceitei à minha maneira. Sou muito preocupado com a minha didática. Sempre peço feedback dos alunos sobre nossos trabalhos. Eles são meus juízes. Lembro que quando voltei dos EUA, me acusaram de militarizar a escola porque vim cheio de técnicas de gestão de classe (risos). Estou sempre me reavaliando e buscando sempre me reinventar. Temo a inércia pedagógica que vejo ocorrer com outros profissionais. Inclusive, protestar contra o comodismo de alguns educadores já me rendeu muitos problemas.  Quando era aluno na educação básica, queria ser sempre o melhor da sala, ter as maiores notas, mas isso vinha de questões familiares, mais do que do espírito competitivo por si. Não era passivo. Era um calo no pé dos professores que não gostavam de ser contrariados. Acho que ainda carrego esse estigma: o garoto-problema.

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