Poderia fazer um breve resumo de sua vida
acadêmica/profissional?
Sou
filho da escola pública. Entrei na faculdade de Letras e Artes pela UERN em
2005, aos 17 anos de idade. Formei-me em 2009. Antes disso, em 2008, tive minha
primeira experiência formal com a docência, pois fui escolhido para trabalhar
num projeto de extensão, com a parceria UERN-PETROBRAS, chamado “Programa de Criança
Petrobras”. Na época, mudei-me para Mossoró, onde permaneci por nove meses
nesse contrato.
Em
2009, retornei à minha cidade (Felipe Guerra) e fui professor substituto por
quase dois anos, até finalmente, passar no meu primeiro concurso (2010) e ser
convocado em 2011. Essa nova porta via prefeitura municipal me levou à cidade Governador
Dix-Sept Rosado, onde trabalhei por cinco anos.
Em
2012, peguei meu segundo vínculo empregatício, mas dessa vez, na SEEC- RN
(Secretaria de Estado da Educação e Cultura).
Em
2014, iniciei minha especialização em língua inglesa, também pela UERN. Esse
curso foi concluído em 2016. Ano em que retornei mais uma vez a Felipe Guerra,
onde permaneço até hoje, e também conquistei o segundo vínculo estadual na
SEEC. O que me fez abandonar o vínculo municipal na cidade anterior, em
respeito ao limite de carga horária do servidor.
Porque
decidiu ser professor de Língua Inglesa? Já pensou, em algum momento, em mudar
de profissão?
Acredito
que ser filho de professor contribuiu para isso. Meu pai era geógrafo, porém,
já ensinou inglês numa época em que professores graduados em língua estrangeira
eram escassos. Eu tinha acesso àquele material dentro de minha casa e ficava
encantado. Adicione a isso, o prazer por músicas internacionais e jogos de
vídeo game (s saudosos da Nintendo me compreenderão).
Eu
me sinto muito realizado por ser professor de inglês. É algo que me enche o
peito de orgulho. No entanto, em momentos de crise, já pensei em mudar de
profissão, largar a docência, mas nunca a língua inglesa. Pensei em
secretariado-excecutivo, turismo e hotelaria, etc. Áreas que, ainda assim,
demandam um idioma estrangeiro.
Como
aprendeu inglês? Usou alguma técnica que você considera realmente efetiva?
Falando em técnica, você tem alguma preferência por método ou abordagem?
Eu
lembro que chegar a UERN e descobrir que iriam me ensinar a ser professor, e
não a falar inglês foi um tanto impactante. Meu nível era muito baixo. Muitos
de nós confundimos a licenciatura com curso de idiomas. Eu, porém, não perdi
tempo. Eu usava o que me era disponível: dicionários, CDs, DVDs, músicas,
filmes, etc. A internet ainda era artigo de luxo para alguns de nós. Lembro que
após estudar sobre fonética, fiquei tão obsessivo que lia algumas páginas de
dicionários para aprender a transcrição fonética dos termos e não mais precisar
perguntar aos professores como se pronunciava tal palavra.
Durante
as férias, revisava tudo o que havia estudado no período anterior para, ao
retornar, o conteúdo ainda estar fresco em minha mente. Na falta de alguém para
praticar, eu falava sozinho perante o espelho. Creio que do método audiolingual
e passando pela abordagem comunicativa até aqui, pode haver variadas formas
eficazes de aprender, mas todas vão requerer disciplina e compromisso. Não
creio em mágicas na aprendizagem. Na minha prática docente, porém, gosto de
unir as ideias do ensino significativo; o lúdico na aprendizagem por meio das
TICs (entre outros) e a ‘task-based approach’.
Quais
as dificuldades que um profissional de idiomas na região onde você atua?
Fazer
o aluno entender que ele precisa de inglês aqui mesmo no Brasil é, desde já,
nosso primeiro desafio. O idioma é presente em tudo que ele faz, mas parece não
enxergar isso. Há também os problemas sistêmicos e estruturais: carga horária
insuficiente, meios de avaliação ultrapassados, internet de baixa qualidade na
escola (Eu não abro mão das tecnologias modernas!), etc.
Como você avalia a formação acadêmica
na sua região?
Eu
sou muito grato por tudo que me foi ofertado pela universidade pública. No
entanto, creio ser preciso focar ainda mais na didática e fluência dos
profissionais que saem de lá. Na minha opinião, é inadmissível que alguém saia formado
para ensinar inglês sem saber falar o idioma. Também penso que a questão da
inclusão social precisa de um reforço. Até hoje, não sei lidar muito bem com
alunos que possuem alguns tipos de deficiência. Eu preciso aprender a
alcançá-los. Finalmente, ainda sobre didática, é preciso aprender a avaliar o
aluno. Tarefa nada simples como uma prova em finais de bimestre.
Quais
são seus planos em relação a sua vida profissional?
Eu
pretendo manter minha formação continuada. O mestrado não saiu de meus planos,
mas tive que adiar por questões de saúde. Tenho o desejo de me tornar
funcionário federal também, seja numa universidade ou instituto técnico.
Todos
os professores de língua inglesa sempre têm que responder à pergunta “você já
morou fora?” Você já teve alguma experiência fora do país? Como foi essa
experiência?
Em
2018, participei do programa PDPI pela CAPES e FULBRIGHT. Na oportunidade,
estudei por seis semanas na San Francisco State University, CA, EUA. Era
um curso de desenvolvimento de metodologias de ensino. Foi a experiência mais
marcante na minha formação profissional. Eu agora podia responder à pergunta
feita acima. Pude vivenciar a riqueza cultural naquela cidade, aprender mais do
idioma, da história americana, costumes, etc. Não pude ser mais o mesmo.
Qual
foi o grande momento da sua vida profissional até o momento?
Cada
concurso no qual passei teve um significado diferente na minha vida
profissional, e nenhum deles foi menos importante. Adiciono a esses episódios,
a experiência vivida no exterior, relatada mais acima.
Já
viveu alguma situação bastante inusitada em sala de aula? Poderia compartilhar
conosco?
Foram
muitas. Variam entre o cômico e o melancólico. Mas optarei por uma que deixará
uma lição aos outros professores que nos leem aqui. Era 2011, eu acabara de
chegar a Governador Dix Sept Rosado para o primeiro emprego efetivo. Numa aula
num sexto ano D (de demônio mesmo!), onde o público era de alunos desnivelados
(16 anos ou mais), eu estava lecionando sobre esportes. Mas, eu não havia tido
o cuidado de averiguar cada termo do vocabulário principal no livro, me confiando
que por se tratar de um sexto ano, eu teria total domínio. Acontece que das 25
modalidades esportivas em inglês, ali havia uma que eu não sabia o significado.
Ao que eu deixei claro desconhecer o termo. Isso foi o bastante para um aluno
gritar do meio da sala: “Ah! Pensei que você era mestre, mas é só um
aprendiz!”, desdenhou ele. Constrangido, mas afiado como sempre, repliquei:
“Você não poderia ter encontrado melhor termo para me definir. Sou aprendiz!
Pois a partir do momento em que me sentir mestre, talvez eu desista de
continuar aprendendo. Talvez eu me ache sábio o suficiente para não mais
precisar buscar. E se ser aprendiz me possibilita continuar aprendendo, me
chame de ‘eterno aprendiz’”. Dito isso, seguiu-se uma série de aplausos. Mas na
outra semana, dei uma aula inteira sobre aquela modalidade esportiva que
desconhecia na aula anterior. E nunca mais lecionei sem ler TODO o conteúdo
antes.
Como
é Elias Bernardino professor e como foi esse mesmo Elias Bernardino aluno?
Eu
me considero extrovertido e brincalhão no convívio com os alunos. Já tentei
fazer a linha ‘professor-delegado’, achando que assim, eu causaria uma melhor
impressão entre os meus pares. Mas percebi que aquilo era uma fraude. Não seria
eu. Então, me aceitei à minha maneira. Sou muito preocupado com a minha
didática. Sempre peço feedback dos alunos sobre nossos trabalhos. Eles
são meus juízes. Lembro que quando voltei dos EUA, me acusaram de militarizar a
escola porque vim cheio de técnicas de gestão de classe (risos). Estou sempre
me reavaliando e buscando sempre me reinventar. Temo a inércia pedagógica que
vejo ocorrer com outros profissionais. Inclusive, protestar contra o comodismo
de alguns educadores já me rendeu muitos problemas. Quando era aluno na educação básica, queria
ser sempre o melhor da sala, ter as maiores notas, mas isso vinha de questões
familiares, mais do que do espírito competitivo por si. Não era passivo. Era um
calo no pé dos professores que não gostavam de ser contrariados. Acho que ainda
carrego esse estigma: o garoto-problema.