Poucas palavras:

Blog criado por Bruno Coriolano de Almeida Costa, professor de Língua Inglesa desde 2002. Esse espaço surgiu em 2007 com o objetivo de unir alguns estudiosos e professores desse idioma. Abordamos, de forma rápida e simples, vários aspectos da Língua Inglesa e suas culturas. Agradeço a sua visita.

"Se tivesse perguntado ao cliente o que ele queria, ele teria dito: 'Um cavalo mais rápido!"

sábado, 30 de agosto de 2014

Entrevista com Natália Guerreiro.





01 – Poderia fazer um breve resumo da sua vida profissional e nos contar como se tornou professora de Língua Inglesa?

Escolhi ser professora por eliminação, mas ao contrário. Letras foi a primeira faculdade que eliminei. Sempre ouvia falar mal da carreira de professor de língua materna ou estrangeira, fosse pelo salário ou pelas condições de trabalho. Tinha decidido fazer Direito como caminho para diplomacia, mas nunca fui das pessoas mais políticas ou diplomáticas. Já no Ensino Médio me peguei pensando por que eu eliminei Letras de prima: porque era a que mais me chamava a atenção. Como num gesto de abnegação, resolvi enfrentar as adversidades mesmo assim. E vou te dizer: não é tão ruim quanto pintam. É difícil, de fato, mas há boas opções dentro da carreira.

Comecei a carreira, então, cursando Letras Português-Inglês na UFRJ e trabalhando num curso lá mesmo, o CLAC-UFRJ, que me deu as primeiras experiências como professora e estimulou a reflexão sobre prática e teoria. Após a graduação, fui para a Cultura Inglesa Rio, que foi para mim uma verdadeira escola. Pouco depois de eu ter voltado da Austrália, onde fui fazer um M.A. em Linguística Aplicada com foco em Avaliação, saiu um concurso para a Aeronáutica. Pode-se dizer que entrei de gaiata no navio, quer dizer, no avião. Mas hoje tenho orgulho de dizer que trabalho com avaliação de inglês dos controladores de tráfego aéreo e pretendo investigar mais essa área no mestrado que iniciei neste ano.

02 - Como aprendeu inglês? Usou algum método especifico? Qual a sua opinião em relação ao ensino de línguas estrangerias no Brasil?

É aquilo que nós professores sempre dizemos: aprender língua é algo para toda a vida. O meu início de aprendizado foi do jeito menos extraordinário possível: quando entrei na 5ª série (hoje se chama 6º ano, né?), meus pais me matricularam no IBEU, um curso no Rio que usa a abordagem comunicativa. Aquele esquema de 50 min de aula 3x por semana ou 1h30min 2x por semana. A escola também começou a oferecer um tempinho ou dois de inglês por semana. Até então, meu contato com o inglês tinha sido muito limitado, umas fitas e um joguinho que meu pai tinha trazido dos Estados Unidos. Ou seja, minha base foi mesmo o cursinho de inglês.
Nos meus 13/14 anos, tive uma revolução de exposição à língua: chegaram a internet discada e a TV a cabo. Uma das minhas atividades favoritas na adolescência era assistir às séries legendadas com um dicionário inglês-inglês da Longman no colo, indo e vindo nas expressões que ouvia e aprendendo várias outras pelo caminho. Sei que estou passando atestado de idade avançada, mas gosto de contar essa história para que outros saibam que é possível aprender sem morar fora ou mitos parecidos.
Sobre o ensino de língua inglesa no Brasil, minha opinião é de que ele depende muito do contexto social e regional, mas principalmente penso que nos faltam dados sobre a nossa realidade. Tenho visto muitas generalizações e poucos dados para embasar.

03 - Quais os planos para a vida profissional?

Como disse, estou fazendo o mestrado em Linguística Aplicada na Unicamp e, dependendo de quão traumática seja a experiência, talvez eu enfrente um doutorado depois. Meu plano por enquanto é continuar na FAB, pois é um trabalho estimulante, mas talvez também tente dar aulas no nível universitário. Acho que deu para ver que não sou muito de planejar, né?

04 – Você participa ativamente de um grupo de professores de Língua Inglesa (BRELT) no Facebook. Como surgiu a ideia do grupo? Qual a importância do networking entre professores de várias regiões do país?

Sobre a origem do grupo, o melhor para contar seria o Bruno Andrade, um dos professores que o fundou. Mas achei a ideia ótima e tenho adorado trabalhar como moderadora. Ali temos professores de diferentes realidades com um fórum para compartilhar experiências, dicas e frustrações. Até eu conhecer a BRELT, não tinha ideia do que era PLN, personal learning network, mas nela encontrei o meu lugar. E gosto especialmente que seja uma comunidade feita por e para brasileiros, pois podemos refletir sobre as nossas realidades de professor no Brasil.
05 – Sobre qual assunto relacionado ao ensino você mais gosta de ler, estudar, pesquisar?

Já diria Cecilia Meirelles, “tenho fases como a lua”. Mas agora, claro, tenho concentrado minhas leituras no campo de avaliação de idiomas.

06 – Já passou por alguma situação inusitada em sala de aula?

Várias, mas o momento mais inesquecível foi uma aula em que eu estava sendo assistida pela auditora da minha região na Cultura Inglesa. Eu não podia estar mais nervosa. Era meu primeiro ano lecionando para crianças de 8 anos, e era a minha primeira vez com aquele livro. Todos os meus colegas tinham dito que a lição que eu teria de ensinar era a mais difícil de todo o semestre, pois cobria o verbo to be na interrogativa com todas as pessoas. Um dos alunos, ao ver a caixinha de gramática tomar a página toda pela primeira vez, falou: “Teacher, isso tudo!?”. Desespero me definia.

O meu colega Arthur Perez tinha me dado uma grande dica de fazer um drill com as model sentences: “Are you my friend? Yes, I am. Is he your friend? Yes, he is.” As crianças adoraram o ritmo e brincar de repetir. Terminei o drill e fui para a pergunta sobre a ordem das palavras na interrogativa em inglês: “‘you are my friend?’ or ‘are you my friend?’ ”. Como a Lei de Murphy é implacável, claro que os meus alunos responderam em uníssono: “YOU ARE MY FRIEND!” Eu suava frio.

Resolvi escrever a pergunta no quadro, mas enquanto eu estava fazendo isso, uma das alunas chega perto de mim e pergunta “Teacher, can I go to the toilet?” (Em inglês mesmo, graças!) Pedi para ela segurar um pouquinho e terminei de escrever a model sentence com as costas para o quadro. Quando termino de escrever, vejo uma mão levantada: “Yes, Pedro?”

Teacher”, ele fez uma careta de nojo, “are you my TOILET?”

Viro para o quadro e lá estava o que escrevi, a embaraçosa pergunta lida pelo aluno e embaixo uma resposta ainda pior: “Yes, I am.”

Nem preciso dizer que a auditora caiu na gargalhada. Acho que o que me salvou foi que o Pedro puxou um coro de “TEACHER CRAZY, TEACHER CRAZY”, e eu aproveitei para criar uma nova model sentence: “Is the teacher crazy? Yes, she is.” Sem sombra de dúvida.

07 - Obrigado pela entrevista. Gostaria de deixar alguma mensagem para os leitores do blog?

Entrem na BRELT! :D A comunidade está crescendo muito, e temos bate-papos muito legais quinzenalmente. E vem novidade por aí!

Além disso, se me permitem um jabá básico, vou começar a publicar no blog da Richmond no dia 5 de setembro. Adoraria ler um feedback de vocês sobre o que escrevi.


Nenhum comentário: