01
– Poderia fazer um breve resumo da sua vida profissional e nos contar como se
tornou professora de Língua Inglesa?
Escolhi ser professora por eliminação, mas ao contrário. Letras
foi a primeira faculdade que eliminei. Sempre ouvia falar mal da carreira de
professor de língua materna ou estrangeira, fosse pelo salário ou pelas
condições de trabalho. Tinha decidido fazer Direito como caminho para
diplomacia, mas nunca fui das pessoas mais políticas ou diplomáticas. Já no
Ensino Médio me peguei pensando por que eu eliminei Letras de prima: porque era
a que mais me chamava a atenção. Como num gesto de abnegação, resolvi enfrentar
as adversidades mesmo assim. E vou te dizer: não é tão ruim quanto pintam. É
difícil, de fato, mas há boas opções dentro da carreira.
Comecei a carreira, então, cursando Letras Português-Inglês na
UFRJ e trabalhando num curso lá mesmo, o CLAC-UFRJ, que me deu as primeiras
experiências como professora e estimulou a reflexão sobre prática e teoria.
Após a graduação, fui para a Cultura Inglesa Rio, que foi para mim uma
verdadeira escola. Pouco depois de eu ter voltado da Austrália, onde fui fazer
um M.A. em Linguística Aplicada com foco em Avaliação, saiu um concurso para a
Aeronáutica. Pode-se dizer que entrei de gaiata no navio, quer dizer, no avião.
Mas hoje tenho orgulho de dizer que trabalho com avaliação de inglês dos
controladores de tráfego aéreo e pretendo investigar mais essa área no mestrado
que iniciei neste ano.
02
- Como aprendeu inglês? Usou algum método especifico? Qual a sua opinião em
relação ao ensino de línguas estrangerias no Brasil?
É aquilo que nós professores sempre dizemos: aprender língua é
algo para toda a vida. O meu início de aprendizado foi do jeito menos extraordinário
possível: quando entrei na 5ª série (hoje se chama 6º ano, né?), meus pais me
matricularam no IBEU, um curso no Rio que usa a abordagem comunicativa. Aquele
esquema de 50 min de aula 3x por semana ou 1h30min 2x por semana. A escola
também começou a oferecer um tempinho ou dois de inglês por semana. Até então,
meu contato com o inglês tinha sido muito limitado, umas fitas e um joguinho
que meu pai tinha trazido dos Estados Unidos. Ou seja, minha base foi mesmo o
cursinho de inglês.
Nos meus 13/14 anos, tive uma revolução de exposição à língua:
chegaram a internet discada e a TV a cabo. Uma das minhas atividades favoritas na
adolescência era assistir às séries legendadas com um dicionário inglês-inglês
da Longman no colo, indo e vindo nas expressões que ouvia e aprendendo várias
outras pelo caminho. Sei que estou passando atestado de idade avançada, mas
gosto de contar essa história para que outros saibam que é possível aprender
sem morar fora ou mitos parecidos.
Sobre o ensino de língua inglesa no Brasil, minha opinião é de que
ele depende muito do contexto social e regional, mas principalmente penso que
nos faltam dados sobre a nossa realidade. Tenho visto muitas generalizações e
poucos dados para embasar.
03
- Quais os planos para a vida profissional?
Como disse, estou fazendo o mestrado em Linguística Aplicada na
Unicamp e, dependendo de quão traumática seja a experiência, talvez eu enfrente
um doutorado depois. Meu plano por enquanto é continuar na FAB, pois é um
trabalho estimulante, mas talvez também tente dar aulas no nível universitário.
Acho que deu para ver que não sou muito de planejar, né?
04
– Você participa ativamente de um grupo de professores de Língua Inglesa
(BRELT) no Facebook. Como surgiu a ideia do grupo? Qual a importância do
networking entre professores de várias regiões do país?
Sobre a origem do grupo, o melhor para contar seria o Bruno
Andrade, um dos professores que o fundou. Mas achei a ideia ótima e tenho
adorado trabalhar como moderadora. Ali temos professores de diferentes
realidades com um fórum para compartilhar experiências, dicas e frustrações.
Até eu conhecer a BRELT, não tinha ideia do que era PLN, personal learning
network, mas nela encontrei o meu lugar. E gosto especialmente que seja uma
comunidade feita por e para brasileiros, pois podemos refletir sobre as nossas
realidades de professor no Brasil.
05
– Sobre qual assunto relacionado ao ensino você mais gosta de ler, estudar,
pesquisar?
Já diria Cecilia Meirelles, “tenho fases como a lua”. Mas agora,
claro, tenho concentrado minhas leituras no campo de avaliação de idiomas.
06
– Já passou por alguma situação inusitada em sala de aula?
Várias, mas o momento mais inesquecível foi uma aula em que eu
estava sendo assistida pela auditora da minha região na Cultura Inglesa. Eu não
podia estar mais nervosa. Era meu primeiro ano lecionando para crianças de 8
anos, e era a minha primeira vez com aquele livro. Todos os meus colegas tinham
dito que a lição que eu teria de ensinar era a mais difícil de todo o semestre,
pois cobria o verbo to be na interrogativa com todas as pessoas. Um dos alunos,
ao ver a caixinha de gramática tomar a página toda pela primeira vez, falou:
“Teacher, isso tudo!?”. Desespero me definia.
O meu colega Arthur Perez tinha me dado uma grande dica de fazer
um drill com as model sentences: “Are you my
friend? Yes, I am. Is he your friend? Yes, he is.” As
crianças adoraram o ritmo e brincar de repetir. Terminei o drill e fui para a pergunta sobre a ordem das palavras na interrogativa
em inglês: “‘you are my friend?’ or ‘are you my friend?’ ”. Como a Lei de
Murphy é implacável, claro que os meus alunos responderam em uníssono: “YOU ARE MY FRIEND!” Eu suava frio.
Resolvi escrever a pergunta no quadro, mas enquanto eu estava
fazendo isso, uma das alunas chega perto de mim e pergunta “Teacher, can I go to the toilet?” (Em
inglês mesmo, graças!) Pedi para ela segurar um pouquinho e terminei de
escrever a model sentence com as
costas para o quadro. Quando termino de escrever, vejo uma mão levantada: “Yes, Pedro?”
“Teacher”, ele fez uma
careta de nojo, “are you my TOILET?”
Viro para o quadro e lá estava o que escrevi, a embaraçosa
pergunta lida pelo aluno e embaixo uma resposta ainda pior: “Yes, I am.”
Nem preciso dizer que a auditora caiu na gargalhada. Acho que o
que me salvou foi que o Pedro puxou um coro de “TEACHER CRAZY, TEACHER CRAZY”, e eu aproveitei para criar uma nova model sentence: “Is the teacher crazy? Yes, she is.” Sem sombra de dúvida.
07
- Obrigado pela entrevista. Gostaria de deixar alguma mensagem para os leitores
do blog?
Entrem na BRELT! :D A comunidade está crescendo muito, e temos
bate-papos muito legais quinzenalmente. E vem novidade por aí!
Além disso, se me permitem um jabá básico, vou começar a publicar
no blog da Richmond no dia 5 de setembro. Adoraria ler um feedback de vocês
sobre o que escrevi.
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