01 – Poderia fazer um breve
resumo da sua vida profissional e nos contar como se tornou professor de Língua
Inglesa?
Iniciei a vida de professor de inglês quando ainda
era aluno. Gostava de "dar aulas" para alunos de níveis mais básicos
e sempre tinha alguém pra ajudar. Ao final dos 16 anos, entrei no curso de
Letras-Inglês da Universidade Federal do Pará (UFPA) e aos 18 comecei a dar
aula profissionalmente no Centro Cultural Brasil Estados Unidos (CCBEU), onde
hoje sou gerente pedagógico. No CCBEU fiz muitos treinamentos, dos mais curtos
aos mais longos. Aos 22 anos passei no concurso para professor substituto do
curso de Letras na UFPA. Aos 23, fiz uma seleção para professor internacional
em escolas públicas na Carolina do Norte (EUA), para onde me mudei e trabalhei
no ensino fundamental por alguns anos. Durante esse período, fiz o mestrado em
TESOL (Greensboro College) e retornei ao Brasil aos 25, quando novamente me
tornei professor substituto da UFPA. No mesmo ano, assumi a direção do ensino
no CCBEU. Hoje continuo como gerente pedagógico e dou aula de Letras em uma
faculdade particular local. Também iniciei o doutorado em Ensino de Inglês na Indiana University of Pennsylvania (EUA), onde venho por alguns meses todos
os anos para estudar.
02 – Como aprendeu inglês?
Usou algum método especifico? Qual a sua opinião em relação ao ensino de
línguas estrangerias no Brasil?
Somos eternos aprendizes do idioma. Mas iniciei
essa caminhada de aprendiz em cursos de línguas aos 10 anos. Não utilizei
método específico, mas hoje entendo que a leitura em inglês é uma das melhores
maneiras de se aprender o idioma por várias razões: comprehensible input, scaffolding, authentic language, motivation (ler o que gosta), etc.
Em relação ao ensino de Línguas Estrangeiras no Brasil,
estamos numa era da corrida contra o tempo e das soluções rápidas e fáceis.
Aprender outra língua não é algo que se compra em 12 parcelas de R$300. Nem
algo que se adquire com um intercâmbio de 1 mês. Penso que muitos cursos de
inglês estão ganhando dinheiro com a falta de orientação das pessoas. Essa é
minha visão global. Há, obviamente, muitas escolas sérias com bons materiais.
03 – Como professor substituto
você teve uma visão de como funciona o ensino superior, qual sua impressão
sobre o curso de Letras? É um ensino satisfatório ou precisa melhorar muito
ainda?
Hoje o curso de Letras está cada vez mais dinâmico
pelas constantes mudanças nos contextos sócio-político-educacionais e os
recursos didáticos que vivem surgindo. Concluí o curso em 2005 e hoje a grade é
completamente diferente do que era onde estudei. Para responder a pergunta
sobre se o ensino precisa melhorar: sim, sempre.
Porém o foco que gostaria de colocar agora é no
aluno de Letras. Todos reclamamos da desvalorização do professor, da atuação de
não-professores na sala de aula, da superficialidade das discussões na área
(especialmente em congressos e eventos) e dos baixos salários. Mas, sinto que
se tivéssemos profissionais mais engajados, mais preocupados com o seu
conhecimento e seu desempenho em sala de aula e com a luta pela valorização, a
realidade seria bem diferente. O que quero dizer é que o próprio profissional é
parte da razão pela qual outros desvalorizam a área de Letras.
Desde a faculdade, vejo alunos que não leem; não
buscam fazer mais do que lhe é exigido em sala (quando fazem), realizam
trabalhos com o menor esforço possível. Obviamente há ótimos alunos, mas minha
leitura do aluno de Letras de forma geral é de um aluno que não se prepara para
ser um profissional de excelência.
O que o curso de Letras faz é oferecer o ensino. A
aprendizagem é resultado de um processo que depende do aluno.
04 –
Quais são as maiores dificuldades no ensino de inglês na região onde você atua?
Como a pergunta foi “dificuldades no ensino de inglês”,
vou colocar o olhar sobre os profissionais de área. Dentre as maiores
dificuldades está a falta de bons professores. O que se define por bom
professor é complexo na educação, mas dentro do contexto do norte do Brasil,
entendo que a maior necessidade é de professores que falem bem inglês e tenham
competência pedagógica.
E aí os gestores educacionais dizem “você precisa
treina-los, investir para que eles atinjam a competência necessária”. Neste
momento vem a segunda maior dificuldade: falta de profissionais comprometidos.
Há os que procuram melhorar, mas há os que não têm o mesmo compromisso.
05 –
Você resolveu estudar fora do país, por que não fazer uma pós-graduação no
Brasil? Quais as vantagens e desvantagens de estudar uma pós fora? Todos dizem
que o processo de revalidação do mestrado ou doutorado é difícil, o que você
tem a dizer sobre isso?
Vamos por parte (risos). Estudar fora do país foi
uma complementação para minha formação profissional. Ou seja, eu tive (e tenho
constantemente) a chance de aprender sobre ensino de inglês dentro do Brasil.
Buscar um mestrado e um doutorado na área fora do Brasil foi uma forma de
ampliar minha visão sobre o que é ensinar/aprender outra língua. A perspectiva
americana é bem mais multicultural e multilíngue do que a perspectiva
brasileira sobre TESOL. Isto me ajudou a ver a área e contribuir para a mesma
de maneira mais ampla. Além disto, obviamente a experiência cultural e
acadêmica adicionam; me tornam um melhor profissional no Brasil pelo inglês que
se desenvolve e o conhecimento cultural.
Sobre o processo de revalidação, realmente é
bastante longo e – dependendo da instituição que revalida – bem caro, também.
Passei por ele após concluir o mestrado nos EUA. Para mim, valeu a pena estudar
fora por aprender métodos e fazer parte de discussões que não teria nos
programas no Brasil, além de toda a experiência cultural. Por isto, decidi
fazer o doutorado também. Penso que, se há a oportunidade de estudar fora em
uma boa instituição, não podemos deixar que a burocracia do processo de
revalidação no Brasil nos impeça de buscar outros horizontes. Minha palavra
para aqueles que estão na dúvida é: a experiência vale a pena. É apenas
importante que se informe e saiba como funciona o processo de revalidação para
que possa haver preparação para ele.
06 -
Já viveu alguma situação bastante inusitada em sala de aula? Poderia
compartilhar conosco?
Sim! (risos). Todos nós temos histórias de sala de
aula para contar. Em 2005 aconteceu de minha mãe decidir estudar no curso onde
eu ensinava. Fez teste de nivelamento e por coincidência acabou sendo
matriculada em uma turma minha de um curso intensivo, onde as aulas eram todos
os dias. Eu tinha 20 anos e fiquei super constrangido de corrigi-la ou que os
outros soubessem que ela era minha mãe. Chamava pelo primeiro nome e isso soava
estranho. Uma vez que a chamei de “mom” na sala. Todos riram e eu tive que
contar (risos).
07 -
Quais os planos para a vida profissional?
Em curto prazo, tenho o objetivo de concluir o
doutorado e, no trabalho, implementar os projetos acadêmicos que temos
preparado com a equipe no CCBEU. Em médio prazo, gostaria de publicar mais e
contribuir para a expansão acadêmica e profissional em TESOL no Brasil. Em
longo prazo, penso em publicar um livro e trabalhar com pesquisa em linguística
aplicada.
08 -
Como é o seu relacionamento com os outros colegas
de profissão, costuma participar de encontros, congressos, workshops etc. com
outros professores?
É um relacionamento muito saudável
com risos e experiências compartilhadas. Somos amigos e colegas. Ou seja, estou
sempre trabalhando com pessoas dentro e fora de Belém (e do Brasil) em projetos
e trabalhos relacionados à área. Em Belém, ampliei os contatos profissionais
quando fui presidente do Braz TESOL Chapter
Belém. Hoje estou como vice-presidente e continuo o trabalho com a equipe. (Inter)nacionalmente,
sempre encontro amigos e colegas em congressos, encontros, quando viajo. Mesmo
em momentos sociais, sempre aprendo com eles e gosto de compartilhar as
experiências da profissão. Quando um projeto termina, já estou conversando com
os colegas para iniciar outro. A área se faz com colaboração. Ninguém é feliz
sozinho (risos).
09 – Ensinar é uma tarefa árdua, continua e que exige um alto
grau de compromisso. Já pensou em desistir da profissão e fazer algo
completamente diferente? O que você não faria na sua vida profissional, caso
pudesse voltar no tempo?
Por várias vezes pensei em deixar a
carreira de Letras. Cheguei a cursar Direito por um tempo, cogitei alguns
concursos públicos locais, mas sempre houve alguma força maior que me envolvia
mais e mais na área de ensino de inglês. No momento em que eu decidi sair da
área e cursar Direito, fui aceito como professor nos EUA. Quando retornei e
decidir voltar a fazer Direito, fui convidado pra direção do ensino no CCBEU.
Cheguei a continuar o curso de Direito após estar na função, mas acabei
imergindo totalmente na carreira e hoje não penso mais em sair.
Hoje olho para trás e percebo que
tudo ocorreu como tinha que ocorrer. Não me arrependo nem dos erros. Todos me
ajudaram a ser quem sou hoje. Sou apenas grato a Deus por tantas bênçãos.
Lembro de tantas vezes pensar que ser professor de Letras não tem retorno
financeiro nem grandes realizações na profissão. Hoje discordo totalmente deste
pensamento. Quando se faz bem e com amor, tudo mais vira consequência.
10 – Qual foi o grande momento da sua vida profissional até o
momento?
Acho que o grande momento da minha
vida profissional está acontecendo agora. Espero ter experiências e oportunidades
ainda melhores no futuro, mas neste exato momento me sinto no ápice. Houve
altos e baixos, com certeza. Quando retornei para o Brasil após ter trabalhado
nos EUA, estava sem emprego e sem dinheiro, pois tive muitas despesas quando
retornei. Então, me senti como se estivesse retomando a vida do zero, mas em
questão de meses as oportunidades foram surgindo novamente.
11 –
Como é Anderson Maia professor e como foi esse mesmo Anderson aluno?
Os dois têm pontos fortes e fracos em comum. Como
pontos fortes, o Anderson aluno e o Anderson professor são muito persistentes e
esforçados. Quando inicio algo, procuro terminar e fazer da melhor forma
possível. Como aluno, estudava inglês o tempo todo, procurava praticar com quem
falava melhor e juntei dinheiro dando aula para poder ir pela primeira vez aos
EUA. Como professor, sempre procurei dar boas aulas e me preparar para estar em
sala; meus alunos merecem o melhor.
Como pontos fracos, os dois são ansiosos e
impacientes. Quando tenho algo por acontecer, fico preocupado, procurando
adiantar o que puder, e “encho” meus amigos com dúvidas e receios.
12 -
Você gostaria de deixar alguma mensagem para os leitores desse blog?
Sim. Gostaria de incentivar a todos que busquem
sempre mais. Nossos sonhos e aspirações podem se tornar realidade quando
lutamos e priorizamos nossos objetivos. Todos podem. Todos são capazes. Não à
acomodação e à mediocridade. Estas são o suicídio profissional. A vitória está
dentro de nós quando colocamos nas mãos de Deus e procuramos os meios.
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