Poucas palavras:

Blog criado por Bruno Coriolano de Almeida Costa, professor de Língua Inglesa desde 2002. Esse espaço surgiu em 2007 com o objetivo de unir alguns estudiosos e professores desse idioma. Abordamos, de forma rápida e simples, vários aspectos da Língua Inglesa e suas culturas. Agradeço a sua visita.

"Se tivesse perguntado ao cliente o que ele queria, ele teria dito: 'Um cavalo mais rápido!"

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Entrevista com Anderson Maia





01 – Poderia fazer um breve resumo da sua vida profissional e nos contar como se tornou professor de Língua Inglesa?

Iniciei a vida de professor de inglês quando ainda era aluno. Gostava de "dar aulas" para alunos de níveis mais básicos e sempre tinha alguém pra ajudar. Ao final dos 16 anos, entrei no curso de Letras-Inglês da Universidade Federal do Pará (UFPA) e aos 18 comecei a dar aula profissionalmente no Centro Cultural Brasil Estados Unidos (CCBEU), onde hoje sou gerente pedagógico. No CCBEU fiz muitos treinamentos, dos mais curtos aos mais longos. Aos 22 anos passei no concurso para professor substituto do curso de Letras na UFPA. Aos 23, fiz uma seleção para professor internacional em escolas públicas na Carolina do Norte (EUA), para onde me mudei e trabalhei no ensino fundamental por alguns anos. Durante esse período, fiz o mestrado em TESOL (Greensboro College) e retornei ao Brasil aos 25, quando novamente me tornei professor substituto da UFPA. No mesmo ano, assumi a direção do ensino no CCBEU. Hoje continuo como gerente pedagógico e dou aula de Letras em uma faculdade particular local. Também iniciei o doutorado em Ensino de Inglês na Indiana University of Pennsylvania (EUA), onde venho por alguns meses todos os anos para estudar.

02 – Como aprendeu inglês? Usou algum método especifico? Qual a sua opinião em relação ao ensino de línguas estrangerias no Brasil?

Somos eternos aprendizes do idioma. Mas iniciei essa caminhada de aprendiz em cursos de línguas aos 10 anos. Não utilizei método específico, mas hoje entendo que a leitura em inglês é uma das melhores maneiras de se aprender o idioma por várias razões: comprehensible input, scaffolding, authentic language, motivation (ler o que gosta), etc.

Em relação ao ensino de Línguas Estrangeiras no Brasil, estamos numa era da corrida contra o tempo e das soluções rápidas e fáceis. Aprender outra língua não é algo que se compra em 12 parcelas de R$300. Nem algo que se adquire com um intercâmbio de 1 mês. Penso que muitos cursos de inglês estão ganhando dinheiro com a falta de orientação das pessoas. Essa é minha visão global. Há, obviamente, muitas escolas sérias com bons materiais.



03 – Como professor substituto você teve uma visão de como funciona o ensino superior, qual sua impressão sobre o curso de Letras? É um ensino satisfatório ou precisa melhorar muito ainda?

Hoje o curso de Letras está cada vez mais dinâmico pelas constantes mudanças nos contextos sócio-político-educacionais e os recursos didáticos que vivem surgindo. Concluí o curso em 2005 e hoje a grade é completamente diferente do que era onde estudei. Para responder a pergunta sobre se o ensino precisa melhorar: sim, sempre.

Porém o foco que gostaria de colocar agora é no aluno de Letras. Todos reclamamos da desvalorização do professor, da atuação de não-professores na sala de aula, da superficialidade das discussões na área (especialmente em congressos e eventos) e dos baixos salários. Mas, sinto que se tivéssemos profissionais mais engajados, mais preocupados com o seu conhecimento e seu desempenho em sala de aula e com a luta pela valorização, a realidade seria bem diferente. O que quero dizer é que o próprio profissional é parte da razão pela qual outros desvalorizam a área de Letras.

Desde a faculdade, vejo alunos que não leem; não buscam fazer mais do que lhe é exigido em sala (quando fazem), realizam trabalhos com o menor esforço possível. Obviamente há ótimos alunos, mas minha leitura do aluno de Letras de forma geral é de um aluno que não se prepara para ser um profissional de excelência.
O que o curso de Letras faz é oferecer o ensino. A aprendizagem é resultado de um processo que depende do aluno.
        
04 – Quais são as maiores dificuldades no ensino de inglês na região onde você atua?

Como a pergunta foi “dificuldades no ensino de inglês”, vou colocar o olhar sobre os profissionais de área. Dentre as maiores dificuldades está a falta de bons professores. O que se define por bom professor é complexo na educação, mas dentro do contexto do norte do Brasil, entendo que a maior necessidade é de professores que falem bem inglês e tenham competência pedagógica.

E aí os gestores educacionais dizem “você precisa treina-los, investir para que eles atinjam a competência necessária”. Neste momento vem a segunda maior dificuldade: falta de profissionais comprometidos. Há os que procuram melhorar, mas há os que não têm o mesmo compromisso.



05 – Você resolveu estudar fora do país, por que não fazer uma pós-graduação no Brasil? Quais as vantagens e desvantagens de estudar uma pós fora? Todos dizem que o processo de revalidação do mestrado ou doutorado é difícil, o que você tem a dizer sobre isso?

Vamos por parte (risos). Estudar fora do país foi uma complementação para minha formação profissional. Ou seja, eu tive (e tenho constantemente) a chance de aprender sobre ensino de inglês dentro do Brasil. Buscar um mestrado e um doutorado na área fora do Brasil foi uma forma de ampliar minha visão sobre o que é ensinar/aprender outra língua. A perspectiva americana é bem mais multicultural e multilíngue do que a perspectiva brasileira sobre TESOL. Isto me ajudou a ver a área e contribuir para a mesma de maneira mais ampla. Além disto, obviamente a experiência cultural e acadêmica adicionam; me tornam um melhor profissional no Brasil pelo inglês que se desenvolve e o conhecimento cultural.

Sobre o processo de revalidação, realmente é bastante longo e – dependendo da instituição que revalida – bem caro, também. Passei por ele após concluir o mestrado nos EUA. Para mim, valeu a pena estudar fora por aprender métodos e fazer parte de discussões que não teria nos programas no Brasil, além de toda a experiência cultural. Por isto, decidi fazer o doutorado também. Penso que, se há a oportunidade de estudar fora em uma boa instituição, não podemos deixar que a burocracia do processo de revalidação no Brasil nos impeça de buscar outros horizontes. Minha palavra para aqueles que estão na dúvida é: a experiência vale a pena. É apenas importante que se informe e saiba como funciona o processo de revalidação para que possa haver preparação para ele.



06 - Já viveu alguma situação bastante inusitada em sala de aula? Poderia compartilhar conosco?

Sim! (risos). Todos nós temos histórias de sala de aula para contar. Em 2005 aconteceu de minha mãe decidir estudar no curso onde eu ensinava. Fez teste de nivelamento e por coincidência acabou sendo matriculada em uma turma minha de um curso intensivo, onde as aulas eram todos os dias. Eu tinha 20 anos e fiquei super constrangido de corrigi-la ou que os outros soubessem que ela era minha mãe. Chamava pelo primeiro nome e isso soava estranho. Uma vez que a chamei de “mom” na sala. Todos riram e eu tive que contar (risos).

07 - Quais os planos para a vida profissional?

Em curto prazo, tenho o objetivo de concluir o doutorado e, no trabalho, implementar os projetos acadêmicos que temos preparado com a equipe no CCBEU. Em médio prazo, gostaria de publicar mais e contribuir para a expansão acadêmica e profissional em TESOL no Brasil. Em longo prazo, penso em publicar um livro e trabalhar com pesquisa em linguística aplicada.  

08 - Como é o seu relacionamento com os outros colegas de profissão, costuma participar de encontros, congressos, workshops etc. com outros professores?

É um relacionamento muito saudável com risos e experiências compartilhadas. Somos amigos e colegas. Ou seja, estou sempre trabalhando com pessoas dentro e fora de Belém (e do Brasil) em projetos e trabalhos relacionados à área. Em Belém, ampliei os contatos profissionais quando fui presidente do Braz TESOL Chapter Belém. Hoje estou como vice-presidente e continuo o trabalho com a equipe. (Inter)nacionalmente, sempre encontro amigos e colegas em congressos, encontros, quando viajo. Mesmo em momentos sociais, sempre aprendo com eles e gosto de compartilhar as experiências da profissão. Quando um projeto termina, já estou conversando com os colegas para iniciar outro. A área se faz com colaboração. Ninguém é feliz sozinho (risos).



09 – Ensinar é uma tarefa árdua, continua e que exige um alto grau de compromisso. Já pensou em desistir da profissão e fazer algo completamente diferente? O que você não faria na sua vida profissional, caso pudesse voltar no tempo? 

Por várias vezes pensei em deixar a carreira de Letras. Cheguei a cursar Direito por um tempo, cogitei alguns concursos públicos locais, mas sempre houve alguma força maior que me envolvia mais e mais na área de ensino de inglês. No momento em que eu decidi sair da área e cursar Direito, fui aceito como professor nos EUA. Quando retornei e decidir voltar a fazer Direito, fui convidado pra direção do ensino no CCBEU. Cheguei a continuar o curso de Direito após estar na função, mas acabei imergindo totalmente na carreira e hoje não penso mais em sair.

Hoje olho para trás e percebo que tudo ocorreu como tinha que ocorrer. Não me arrependo nem dos erros. Todos me ajudaram a ser quem sou hoje. Sou apenas grato a Deus por tantas bênçãos. Lembro de tantas vezes pensar que ser professor de Letras não tem retorno financeiro nem grandes realizações na profissão. Hoje discordo totalmente deste pensamento. Quando se faz bem e com amor, tudo mais vira consequência.

10 – Qual foi o grande momento da sua vida profissional até o momento?

Acho que o grande momento da minha vida profissional está acontecendo agora. Espero ter experiências e oportunidades ainda melhores no futuro, mas neste exato momento me sinto no ápice. Houve altos e baixos, com certeza. Quando retornei para o Brasil após ter trabalhado nos EUA, estava sem emprego e sem dinheiro, pois tive muitas despesas quando retornei. Então, me senti como se estivesse retomando a vida do zero, mas em questão de meses as oportunidades foram surgindo novamente.

11 – Como é Anderson Maia professor e como foi esse mesmo Anderson aluno?

Os dois têm pontos fortes e fracos em comum. Como pontos fortes, o Anderson aluno e o Anderson professor são muito persistentes e esforçados. Quando inicio algo, procuro terminar e fazer da melhor forma possível. Como aluno, estudava inglês o tempo todo, procurava praticar com quem falava melhor e juntei dinheiro dando aula para poder ir pela primeira vez aos EUA. Como professor, sempre procurei dar boas aulas e me preparar para estar em sala; meus alunos merecem o melhor.

Como pontos fracos, os dois são ansiosos e impacientes. Quando tenho algo por acontecer, fico preocupado, procurando adiantar o que puder, e “encho” meus amigos com dúvidas e receios.

12 - Você gostaria de deixar alguma mensagem para os leitores desse blog?

Sim. Gostaria de incentivar a todos que busquem sempre mais. Nossos sonhos e aspirações podem se tornar realidade quando lutamos e priorizamos nossos objetivos. Todos podem. Todos são capazes. Não à acomodação e à mediocridade. Estas são o suicídio profissional. A vitória está dentro de nós quando colocamos nas mãos de Deus e procuramos os meios.





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