O blog está de volta com as entrevistas. Muitos
leitores mandaram mensagens pedindo mais postagens do tipo. Aparentemente, esses questionamentos estão ajudando muitos alunos (de Letras ou não),
potenciais professores de Língua Inglesa e profissionais experientes a refletirem
sobre suas práticas e a se “acharem” na profissão.
Recebemos vários e-mails de pessoas que diziam que
elas se sentiam mais motivadas por saberem que muitos profissionais bem
sucedidos também passaram por situações diversas e não muito diferentes das
suas próprias experiência. Situações essas que, “ajudaram a manter a motivação
por saber que não acontecem somente conosco!”. Portanto, a(s) experiência(s)
dos outros profissionais têm sido de bastante valia para nossos leitores e para
o blog.
O entrevistado dessa semana (depois de algum tempo
sem entrevistas) é um professor super entusiasmado, que ama aquilo que faz
mesmo tendo que encarar os grandes desafios do dia a dia e a responsabilidade
de educar outras pessoas. Pedro Euzébio
Brandão nos fala um pouco das suas experiências em sala de aula, sua
formação acadêmica e planos profissionais e muito mais.
Esperamos que curtam nossa entrevista com o
professor Pedro Brandão (e estamos certo que gostarão!).
A entrevista foi enviada ao e-mail pessoal do professor Pedro, que
autorizou sua publicação. Todas as imagens foram cedidas pelo professor.
01 – Poderia fazer um breve resumo da
sua vida profissional e nos contar como se tornou professor de Língua Inglesa?
Desde sempre quis ser professor. Talvez por ter crescido em
ambiente escolar, por minha mãe ter sido merendeira muitos anos e ter nascido
no dia 15 de outubro, sempre senti que esta era minha vocação. Ingressei na Universidade
Metodista de Piracicaba no curso de Letras com Licenciatura em Inglês em 2005 e
já no final do primeiro ano comecei a atuar como professor de inglês. Desde
então trabalhei em escolas de idioma e atualmente num colégio bilíngue e
leciono em aulas particulares. Em 2009 tive minha primeira experiência no
exterior, fazendo uma extensão do curso superior em Ohio e foi quando eu
confirmei que ser professor de inglês era realmente mesmo o que eu quero fazer.
02- Por que você escolheu lecionar
inglês? Já pensou, em algum momento, em mudar de profissão? Se sim, qual?
Embora pareça clichê, sinto que fui escolhido por esta
profissão. Desde pequeno quis ser professor, mas não sabia que me tornaria um
professor de inglês. Estudante de escola pública, fui ter aulas de inglês
somente na antiga 5a série (hoje 6o ano) e com um
professor bem ruim. Logo de cara eu peguei uma antipatia muito grande pela
língua, e consequentemente comecei a apresentar maus resultados. Foi então que
pedi à minha mãe que me matriculasse na única escola de inglês da cidade. Foi
daí que eu vi o que era inglês de verdade.
Atuando como professor desde 2005 tramitando entre escolas de
idiomas e hoje numa escola regular, posso dizer que quanto mais o tempo passa,
mais desafiadoras e até desmotivadoras são as circunstâncias nas quais os professores
têm tido que desempenhar suas funções. Isto me fez questionar algumas vezes
(mais recentemente) o quão saudável é ser professor no Brasil. De qualquer
forma, quanto mais eu penso mais eu vejo que eu não nasci pra fazer outra
coisa, e todas as outras possibilidades acabam caindo em ensinar alguém a fazer
algo. Eu gosto muito de design,
restaurações, e artesanato em geral. Talvez se eu mudasse de profissão, esta
estaria ligada em fazer qualquer coisa nesta área, desde que depois de
profissional eu pudesse ajudar outros a fazer também.
03 – Quais são as maiores
dificuldades no ensino de inglês na região onde você atua?
Acredito que as dificuldades na minha região não diferem muito
da maioria das outras regiões pelo Brasil. Exceto problemas sociais como
pobreza extrema e escassez de recursos naturais, minha região carece de um
melhor tratamento aos educadores que tanto se esforçam para ensinar e educar
alunos cada vez menos interessados e comprometidos. O baixo salário, os pseudobenefícios,
a falta de investimento no desenvolvimento de uma carreira, a baixa qualidade e
preocupação de investimento em coisas básicas como mobiliário, computadores,
livros é algo que realmente me preocupa nesta profissão, na qual tenho muitos
amigos nas mais diferentes diferentes esferas.
04 – Como aprendeu inglês? Usou
alguma técnica que você considera realmente efetiva? Falando em técnica, você
tem alguma preferência por método ou abordagem?
Aprendi inglês porque na escola de idiomas sempre tive
professores bons, que motivavam e mostravam que era possível aprender um idioma
de forma divertida e produzir esta língua num país que não promove situações de
prática e maior interação. Muito embora eu tenha um ouvido que absorve pouco,
ainda me lembro das aulas de música e sessões de filmes no curso de idiomas que
estudei. Aprendi muito, principalmente passando tardes em frente ao computador
lendo as letras e vendo os clipes, até decorar tudo.
Sou interacionista e acredito que sem interação, não há
objetividade em se aprender uma língua. Exatamente por isso defendo que não se
deve ser extremista optando por uma única linha metodológica. Cada vez mais
temos pessoas que aprendem totalmente diferente umas das outras, e acredito que
se deve ser bem flexível quando se ensina uma língua.
05 – Já viveu alguma situação
bastante inusitada em sala de aula? Poderia compartilhar conosco?
Ser professor é padecer no inusitado. São tantas as situações
engraçadas que fica difícil pontuar uma. Eu me lembro bem, no meu segundo mês
no colégio, estava desenvolvendo uma atividade que falava sobre a família com
alunos do 2o ano do Ensino Fundamental (7-8 anos)... eu pedi que
eles desenhassem os respectivos pais, e que se não tivessem um, que desenhassem
alguém que eles consideravam como tal. De repente o Fábio levanta a mão e
pergunta se poderia me desenhar. Eu respondi que se ele me considerasse como um
pai, que poderia. Preocupado e curioso, perguntei baixo pra auxiliar de sala
quando ele tinha perdido o pai. Para minha surpresa, o Fábio tinha pai, um pai
super presente e muito parceiro do filho e da escola. Esta situação me deixou
muito balançado.
06 – Quais os planos para a vida
profissional?
Vida acadêmica é meu projeto. Quero continuar trabalhando como
professor da educação básica e também universitário na área de comunicação e/ou
de línguas.
07 - Como você avalia o ensino de
Língua Estrangeira no Brasil, é satisfatório?
Infelizmente o ensino de forma geral é bastante precário e não
estimula pensadores. Quem aprende é guerreiro e quer realmente fazer a
diferença. Isto é ainda mais evidente com a Língua Estrangeira. É engraçado
pensar que o mercado de trabalho brasileiro cobre tanto uma língua estrangeira,
mas o investimento nesta área, principalmente em escolas públicas, é tão baixo.
08 – Como é o seu relacionamento com
os outros colegas de profissão, costuma falar sobre o assunto com outros
professores?
Eu costumo dizer que a classe é ao mesmo tempo muito unida e
desunida. A vida acadêmica propicia uma briga de egos constante e é triste
perceber que quem não é egoísta é muitas vezes encarado como esnobe, oferecido,
ou alguém que quer se aparecer o tempo todo. Posso dizer que tenho colegas
assim, mas tenho muito mais colegas que sabem bem a diferença entre ser
professor e educador. Estes educadores estão sempre compartilhando
experiências, opiniões, dando sugestões, e o mais importante, ajudando um ao outro
a atingir um nível e uma qualidade cada vez maior.
09 – O que você não faria na sua vida
profissional, caso pudesse voltar no tempo?
Tudo exatamente como fiz. Talvez eu não tivesse demorado tanto
pra começar meu mestrado.
10 – Qual foi o grande momento da sua
vida profissional até o momento?
O meu grande momento foi quando, aos 22 anos, fui convidado para
ser sócio em uma escola de idiomas pela qual tenho um amor infinito e tive que
deixar este sonho para ir para o exterior dar continuidade aos meus estudos.
Foi esta decisão e experiência que me fez compreender o quanto eu amo minha
profissão e o quanto eu a levo a sério.
11- Você tem um blog, como surgiu a
ideia do mesmo e qual o objetivo? Quais os desafios de manter um blog com tal
conteúdo e qual o tamanho do “trabalho” de mantê-lo atualizado? Com que
frequência você escreve no mesmo?
O blog é como um filho, que agora já está mais crescidinho e
independente. A ideia do blog nasceu porque eu sempre amei escrever, e via nas
minhas aulas que eu poderia contribuir muito mais com meus alunos com
informações que os livros não trariam. O blog foi tomando corpo e vida, e
exigindo cada vez mais de mim, pois sempre criterioso, eu sentia que não era só
publicar coisas, mas que estas publicações exigem estudo e muita pesquisa. Por
isto, tempo sempre foi o maior desafio. Hoje, quando passo um tempo sem postar
algo, fico com a consciência pesada, como um pai moderno que não dá atenção
para seu filho. E é engraçado que o blog tomou uma proporção que quando demoro
pra postar, as pessoas me cobram. Além disso, passei a conhecer pessoas que
moram em outros países e usam meu blog para estudar. Isto definitivamente não
tem preço.
12 – Você se formou em Letras, qual a
sua opinião em relação ao curso? É preciso mudar muita coisa para adequar o
ensino “soberano” superior ao mercado de mudanças tão constantes?
Eu tive o privilégio de estudar numa universidade com raízes
americanas que vê o ensino de idiomas com outros olhos. Começando pelo fato de
dividir as licenciaturas, a grade de disciplinas do meu curso era de uma
riqueza impensável. No entanto, poderia ter sido muito melhor se não houvessem
o famoso vilão chamado “Custos”. Por ser um curso que não exigia proficiência
na língua, muitas das aulas eram lecionadas em português, o que ao meu ver,
deixaram um pouco a desejar no quesito formação profissional. Era uma
oportunidade de remar contra a maré educacional e social brasileira e propiciar
um ambiente onde inglês fosse segunda língua e não língua estrangeira. Mesmo
assim, acredito que poucas universidades invistam numa grade como da UNIMEP,
pois realmente é cara, mas certamente revolucionária.
13 – Como é Pedro Brandão professor e
como foi esse mesmo Pedro aluno?
Eu sempre fui falante e engajado. Se me propunha a fazer algo,
eu procurava fazer o meu melhor, nem que pra isto eu precisasse falar com o
presidente da república. Isto ainda não mudou. Nunca fui “cdf” nem de ficar me
matando de estudar às vésperas, mas sempre me interessei pela instituição
escolar e pela situação sala de aula. Tive uma educação em casa que sempre me
ensinou que o professor é figura máxima, e que portanto deve ser respeitado.
Minha mãe sempre me ensinou que, sem passar pelas mãos de um professor, não
existiria nenhum outro profissional. Mesmo com toda dificuldade de uma família
bem humilde e talvez com problemas mais intensos do que de uma família
convencional, minha mãe sempre foi extremamente parceira e presente na minha
vida escolar. O maior sonho dela era que seus filhos fossem professores, pois
ela quis ser mas não teve oportunidades. No entanto, onze anos depois das
minhas três irmãs, eu fui o único que sempre gostou da vida acadêmica. É com
este mesmo amor e educação que recebi da minha maior mestra que atuo e acredito
na minha profissão. É assim que procuro educar meus alunos, mostrando que é
possível atingirem seus sonhos com respeito e dignidade, cada qual com suas
características que devem ser respeitadas.
14 – Você gostaria de deixar alguma
mensagem para os leitores desse blog?
UM PROFESSOR EDUCADOR JAMAIS DESISTE. É possível que ele tenha
que, em algum momento da vida, abrir mão de sonhos para continuar caminhando
com respeito e dignidade nesta profissão tão desafiadora que é ser professor. É
importante lembrar que um educador não é um mero transmissor de conhecimentos,
mas é uma união de várias dádivas num único ser. É por isto que ser professor-educador
é cansativo. É preciso pensar com várias cabeças, olhar com muitos olhos, e
amar com um único coração com capacidade infinita de perdoar e considerar o
próximo.
O blog PORTAL DA LÍNGUA INGLESA agradece sua cooperação e o tempo disponibilizado para nos ceder
essa entrevista. Estamos certos de que suas respostas inspirarão muitos
leitores desse espaço digital. Muito obrigado e boa sorte nessa longa jornada
que é o ensino de Línguas Estrangeiras no Brasil.
3 comentários:
Acompanho o blog do professor Pedro e se pode ver sua paixão pela profissão transbordar em suas palavras, de uma maneira realista que enfrenta os desafios mas não deixa de sonhar com um futuro melhor. Um grande exemplo para os professores e futuros professores.
Marcela, que bom que temos alguém para testemunhar o trabalho que desenvolvemos. Acredito que o Pedro deva estar feliz por ouvir vossas palavras.
Esse blog é simplesmente fantástico. Gosto dessas entrevistas.
Josué.
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