Poderia fazer um breve resumo de sua vida acadêmica/profissional?
Meu nome é Adriano Santos e comecei minha carreira de
maneira informal aos 16 anos, quando comecei a fazer traduções para colegas de sala
de aula e posteriormente comecei a lecionar a língua inglesa também de maneira
informal. Decidi então me profissionalizar e aos 19 anos iniciei meu curso de
Letras – habilitação em Língua Inglesa pela então Universidade Federal de São
João Del Rei, em Minas Gerais. Desde o início da faculdade, me envolvi em
vários projetos relacionados ao ensino e extensão em Língua Inglesa. Fui
professor de um curso de cursos de extensão da universidade para formação de
novos professores de Inglês e participei de outros projetos desenvolvidos pela
universidade para o desenvolvimento da profissão. Cerca de dois anos antes de
me formar, consegui meu primeiro emprego formal como professor de inglês em um
curso livre de idiomas de São João Del Rei. A partir daí, trabalhei em várias
escolas de inglês, assim como instituições de ensino regular nas cidades de
Belo Horizonte e Porto Alegre. Meu próximo passo foi iniciar o curso de
mestrado pela então Universidade Federal de Santa Catarina, onde hoje
desenvolvo minha pesquisa de mestrado na área de Linguística Aplicada e leciono
em um curso de extensão da própria Universidade.
Por que decidiu ser professor de Língua Inglesa?
Decidi me dedicar ao estudo da língua formalmente na
faculdade de Letras, a partir daí tornar-me um professor com qualificação foi
um processo natural, onde podia associar teoria e prática.
Quais as dificuldades que um profissional de idiomas na região onde você
atua?
Pergunta interessante ao meu contexto. Como já
trabalhei em cidades e regiões variadas no Brasil, pude perceber dificuldades
comuns da profissão em todos os lugares, assim como pude também perceber
dificuldades que variam de região para região. Aponto como principal
dificuldade a desvalorização da profissão. Para conseguir um emprego, o
candidato, na maioria das vezes, tem que cumprir vários requisitos entre eles:
ter morado fora, experiência, disponibilidade, entre outros. No entanto, as
condições de trabalho e os salários oferecidos são compatíveis com todas
qualificações exigidas pelas instituições. Além do mais, vejo como um grande
problema o fato de pessoas sem faculdade poderem dar aula de inglês pelo
simples fato de terem morado fora ou aprendido o idioma. Fico a pensar que me
qualifiquei, estudei, aprendi e recebo exatamente as mesmas condições de
trabalho de alguém que não fez nada disso. Em sala de aula, vejo a dificuldade
de muitos alunos em sala, assim que é desafiador encontrar estratégias que
comtemplem o aprendizado de todos.
Como você avalia sua formação acadêmica?
Acredito que a minha formação acadêmica tenha sido
muito proveitosa. Tive excelentes professores que marcaram minha vida pessoal e
profissional. No entanto, acredito que a Universidade poderia ter tido em seu
quadro docente, outros professores que contemplassem outras subáreas do curso
de Letras, por exemplo, sempre me interessei muito por fonética e fonologia e
acredito que tive uma formação superficial neste ponto, assim como alguns
outros.
Quais são seus planos em relação a sua vida profissional?
Agora pretendo terminar o mestrado e dar sequência aos
estudos no Doutorado, assim terei qualificação para trabalhar com ensino,
pesquisa e extensão em instituições públicas e privadas de ensino superior.
Como aprendeu inglês? Usou alguma técnica que você considera realmente
efetiva? Falando em técnica, você tem alguma preferência por método ou
abordagem?
Iniciei meu processo contínuo de aprendizado da língua
inglesa quando tinha meus 9 anos. Fui diretamente influenciado pela música dos
Beatles e pela linguagem dos vídeo-games. Eu me lembro que na época eu tinha um
dicionário de inglês em casa e ficava horas tentando traduzir e entender o
inglês que existia ao meu redor. Com isso eu desenvolvi com muita eficiência
minha habilidade de ler em inglês, assim como o vocabulário e estrutura. Meu
próximo passo foi focar-me na pronúncia do idioma. Conseguia encartes de
músicas em inglês para acompanhar o que estava sendo cantado com o que estava
sendo falado. Os jogos eletrônicos também ajudaram muito, pois tinha que
acompanhar as histórias em inglês narradas pelos personagens. Quando iniciei
minha faculdade, tive aulas em inglês, assim como todas as leituras e
atividades eram em inglês. Além disso, conheci um grande amigo do Novo México
(EUA) que morava em São João Del Rei. Assim eu costumava passar muito tempo com
ele, principalmente nos finais de semana. Como ele não falava em Português
comigo, eu desenvolvi muito a fala, associada ao intenso contato com a língua
inglesa na faculdade. A partir daí, com acesso à internet e a outros recursos,
também usava todo o tempo que eu tinha para estar ainda mais imerso em
contextos de aprendizagem de língua inglesa.
Sobre técnica que seja efetiva? Bom, eu diria que
disciplina, trabalho duro e acima de tudo se divertir ao aprender. O inglês
sempre teve para mim um sentido emocional, pois aprender as letras das músicas
e acima de tudo aprender a cantá-las me motivava a aprender cada vez mais, assim
como terminar as longas jornadas dos jogos que me encantavam na infância.
Acredito muito na abordagem comunicativa. No entanto,
ao longo dos anos fui entendendo melhor a dinâmica desta abordagem e adaptando
a abordagem para o ensino. A pesquisa que desenvolvo hoje no mestrado me traz
uma perspectiva intercultural ao ensino de língua inglesa, assim que vou
“acrescentado” novos conceitos à maneira de usar a abordagem comunicativa em
sala de aula.
Já viveu alguma situação bastante inusitada em sala de aula? Poderia
compartilhá-la conosco?
Várias, mas difícil lembrar especificamente de alguma
situação. Eu me lembro muito de situações desconfortáveis em sala de aula por
ter planejado uma conversação sobre determinado tópico e o rumo da discussão
fugir ao controle e eu ter que improvisar na hora para retomar a situação. Eu
me lembro também de situações engraçadas como uma vez que perguntei a um aluno:
What do you do in order to improve your
phisical appearance? e de a resposta ter sido: I shave my “bird”. No caso eu entendi que o que o aluno em questão
queria dizer beard ao invés de bird. Na ocasião eu não me contive e
acabei rindo da situação.
Como você avalia o ensino de Língua Estrangeira no Brasil? É
satisfatório?
Acredito que o ensino de Língua Inglesa no Brasil
possua grandes desafios que vão desde à qualificação e formação do profissional
de Língua Inglesa até algumas crenças, muitas vezes errôneas ao meu ver, a
respeito do ensino. Quanto à formação do (a) profissional, eu realmente
acredito e defendo que este (a) deva passar por um curso de graduação, assim
como ter uma formação continuada. Saber o idioma é bem diferente de ensiná-lo e
o que acontece hoje no Brasil é que os (as) profissionais de língua inglesa que
passam por qualificação acabam sendo desvalorizados pelo fato de que pessoas
sem formação, que simplesmente tenham morado no exterior, tenham espaço no
mercado de trabalho, fazendo com que profissionais, qualificados ou não,
recebam os mesmos salários e as mesmas condições de trabalho.
Quanto ao ensino em si, acredito que alguns mitos
deveriam ser desconstruídos. O velho e poderoso discurso falacioso de que o
nativo necessariamente é o melhor professor, assim como só morando fora se
aprende um novo idioma, entre outros.
Aponto também como problema o fato de haver
professores sem a proficiência no idioma e que não continuam seus estudos. Em
relação à sala de aula em si, fica difícil dar aula para 30 ou até mesmo 40
alunos de uma vez só. Todos esses fatores levam-me a pensar que o ensino de
inglês no Brasil não seja satisfatório. Também é muito desmotivador ter um
curso superior, se qualificar, estudar e trabalhar duro para não ter muitas perspectivas
de crescimento e valorização profissional! Às vezes bate aquele questionamento:
“Estou fazendo a coisa certa?”
Como é o seu relacionamento com os outros colegas de profissão, costuma
falar sobre o assunto com outros professores?
Mantenho uma relação diplomática e profissional com os
(as) colegas de profissão, dos quais divido ideias e experiências. Há, no
entanto, poucos (as) deles (as) que divido não só ideias para o ensino, como
alegrias e angústias da profissão.
O que você não faria na sua vida profissional, caso pudesse voltar no
tempo?
Difícil responder à pergunta, mas acredito que eu
tenha cometido inúmeros “erros” ao longo da carreira. Não me arrependo de
nenhum deles, por que graças a eles eu ganhei experiência para me tornar o
profissional que sou hoje. Aprendi, por exemplo, ou pelo menos acho que
aprendi, a lidar com assuntos controversos e polêmicos em sala de aula com
desenvoltura. Muitas vezes eu tocava em assuntos “perigosos”, com o objetivo de
promover a conversação, mas muitas vezes sem um plano bem sólido para mediar os
pontos de conflito em sala de aula. Já passei por alguns bocados por não saber
fazer isso. Se pudesse voltar no tempo, usaria minha experiência de hoje para
planejar mais.
Qual foi o grande momento da sua vida profissional até o momento?
Em 12 anos de experiência é muito difícil apontar um
momento. Mas é muito gratificante para mim receber depoimentos de alunos que me
relatam experiências positivas que tiveram com o inglês. Ah, um momento
específico que gosto de lembrar foi quando eu dava aulas para a primeira série
do ensino fundamental, acho que foi um desastre, mas havia um aluno que me
marcou muito. Aos 5 anos de idade ele era fluente em inglês e ninguém havia se
dado conta disso. Eu percebi que ele era capaz de falar inglês. Quando eu disse
uma frase qualquer, pensando em voz alta, e ele me respondeu em inglês com um
vocabulário muito além de saber as cores em inglês. A partir daí comecei a
falar com ele em inglês todas as aulas e ele me respondia. Conversei com a mãe
dele e dei alguns presentes que estimulassem o guri a falar mais e aprender
mais. Aquela situação marcou minha carreira, assim como acredito que tenha
marcado os pais da criança.
Você gostaria de deixar alguma mensagem para os leitores deste blog?
AOS ALUNOS:
Não existe “dica” e fórmula para aprender um idioma! O
que existem são ferramentas para tal. Não se aprende um idioma por osmose, por
isso é preciso ter disciplina, estudar, se dedicar, se imergir no idioma (a
internet está aí também para ajudar) e aprender com os erros. Só que acima de
tudo é preciso se divertir durante o processo (interminável) do aprendizado. Tentem
se perguntar: por que mesmo que eu estou aprendendo inglês? Se a resposta for
simplesmente: “para conseguir um emprego”, acho que alguma coisa está errada. O
inglês para mim representa um mundo de possibilidades! Cada idioma que eu falo
é como se fossem óculos. Cada óculos que eu uso me permite ver o mundo de
perspectivas muito diferentes. O inglês me permitiu a conhecer pessoas e
realidades muito diferentes das quais eu jamais teria acesso se não fosse por
uma língua comum. Então aprender inglês para conseguir um emprego é válido, mas
é muito pequeno comparado a tudo que um idioma pode te trazer. Então o aprendizado
tem uma porcentagem de muito hard work e
de diversão durante o processo.
AOS PROFESSORES:
Por mais desafiadora que seja nossa profissão pelos
motivos que já citei aqui, ela também nos traz muitas alegrias. Trabalhem com
dedicação e esforço que vocês colherão bons frutos. Existem caminhos na
profissão que podem ser perfeitamente trilhados com sucesso!
PORTAL DA LÍNGUA INGLESA
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