PINK
DOG
[Rio de Janeiro]
The sun is blazing and the sky is
blue.
Umbrellas clothe the beach in
every hue.
Naked, you trot across the avenue.
Oh, never have I seen a dog so
bare!
Naked and pink, without a single
hair...
Startled, the passersby draw back
and stare.
Of course they're mortally afraid
of rabies.
You are not mad; you have a case
of scabies
but look intelligent. Where are
your babies?
(A nursing mother, by those
hanging teats.)
In what slum have you hidden them,
poor bitch,
while you go begging, living by
your wits?
Didn't you know? It's been in all
the papers,
to solve this problem, how they
deal with beggars?
They take and throw them in the
tidal rivers.
Yes, idiots, paralytics, parasites
go bobbing int the ebbing sewage,
nights
out in the suburbs, where there
are no lights.
If they do this to anyone who begs,
drugged, drunk, or sober, with or
without legs,
what would they do to sick,
four-legged dogs?
In the cafés and on the sidewalk
corners
the joke is going round that all
the beggars
who can afford them now wear life
preservers.
In your condition you would not be
able
even to float, much less to
dog-paddle.
Now look, the practical, the
sensible
solution is to wear a fantasía.
Tonight you simply can't afford to
be a-
n eyesore... But no one will ever
see a
dog in máscara this time of year.
Ash Wednesday'll come but Carnival
is here.
What sambas can you dance? What
will you wear?
They say that Carnival's
degenerating
— radios, Americans, or something,
have ruined it completely. They're
just talking.
Carnival is always wonderful!
A depilated dog would not look
well.
Dress up! Dress up and dance at
Carnival!
1979
Elizabeth
Bishop
CADELA ROSADA
[Rio de Janeiro]
Sol forte, céu azul. O Rio sua.
Praia apinhada de barracas.
Nua,
passo apressado, você cruza a
rua.
Nunca vi um cão tão nu, tão sem
nada,
sem pêlo, pele tão
avermelhada...
Quem a vê até troca de calçada.
Têm medo da raiva. Mas isso não
é hidrofobia — é sarna. O olhar
é são
e esperto. E os seus filhotes,
onde estão?
(Tetas cheias de leite.) Em que
favela
você os escondeu, em que ruela,
pra viver sua vida de cadela?
Você não sabia? Deu no jornal:
pra resolver o problema social,
estão jogando os mendigos num
canal.
E não são só pedintes os
lançados
no rio da Guarda: idiotas,
aleijados,
vagabundos, alcoólatras,
drogados.
Se fazem isso com gente, os
estúpidos,
com pernetas ou bípedes, sem
escrúpulos,
o que não fariam com um
quadrúpede?
A piada mais contada hoje em
dia
é que os mendigos, em vez de
comida,
andam comprando bóias
salva-vidas.
Você, no estado em que está,
com esses peitos,
jogada no rio, afundava feito
parafuso. Falando sério, o
jeito
mesmo é vestir alguma fantasia.
Não dá pra você ficar por aí à
toa com essa cara. Você devia
pôr uma máscara qualquer. Que
tal?
Até a quarta-feira, é Carnaval!
Dance um samba! Abaixo o
baixo-astral!
Dizem que o Carnaval está
acabando,
culpa do rádio, dos
americanos...
Dizem a mesma bobagem todo ano.
O Carnaval está cada vez
melhor!
Agora, um cão pelado é mesmo um
horror...
Vamos, se fantasie!
A-lá-lá-ô...!
1979
Poema
extraído de: Elizabeth Bishop. O Iceberg Imaginário e Outros Poemas. Seleção, tradução e estudo crítico de Paulo
Henriques Britto. Companhia das Letras, São Paulo, 2001
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